Inovação: Um medicamento e um fígado com marca nacional

Dezembro 14, 2010 by  
Filed under Notícias

Um antiepiléptico, um órgão criado em laboratório, um dinossauro. Quem disse que as descobertas portuguesas ficaram no século XV?

A frase pegou e costuma ser usada para falar da saúde como negócio em expansão – exportamos mais medicamentos do que vinho do Porto. Neste cabaz de quase 500 milhões de euros por ano a pesar na balança comercial, o Zebinix é o Porto Ferreira das farmacêuticas. O primeiro medicamento com patente portuguesa e desenvolvido de raiz em Portugal chegou às farmácias este ano e já trata doentes com epilepsia em nove países europeus.

O remédio integra a lista de descobertas portuguesas em 2010 e tem a marca da Bial. Foram necessários 14 anos de investigação, ensaios clínicos envolvendo mais de mil doentes em 23 países e 300 milhões de euros para chegar ao antiepiléptico que reduz a frequência das crises em adultos com epilepsia usando o acetato de eslicarbazepina como arma principal.

A primeira embalagem foi vendida na Alemanha e desde então o medicamento tem sido usado por dinamarqueses, ingleses, austríacos e suecos. O laboratório nacional que mais dinheiro canaliza para investigação e desenvolvimento não quer ficar pelo Zebinix e promete lançar até 2020 cinco medicamentos inovadores para tratar doenças cardiovasculares, respiratórias, Parkinson ou hipertensão.

Mas nem só da Bial surge inovação. Num ano em que houve mão portuguesa em descobertas tão diferentes como as propriedades fungicidas do tremoço, o primeiro dinossauro da Bulgária ou uma nova espécie de tartaruga em Angola, Pedro Baptista destacou-se na lista de investigadores: é o pai do primeiro fígado criado pelo homem. Não é apenas tecido hepático, é um órgão inteiro produzido no laboratório de Medicina Regenerativa da Universidade de Wake Forest, na Carolina do Norte. Se fosse baptizado, receberia o apelido português de Pedro.

O bolseiro a fazer pós-doutoramento tem como objectivo último conseguir um fígado que possa ser transplantado para os milhares de doentes à espera de um dador compatível. Por enquanto, a técnica de pegar num órgão de um furão, rato ou porco, matar as células originais e obter uma espécie de esqueleto extracelular capaz de sustentar novas células da espécie pretendida só permitiu criar um fígado de furão (2,5 centímetros e 5,6 gramas). Um órgão com o tamanho certo para encaixar num corpo humano deve ter 100 mil milhões de células. É nesta dificuldade que a investigação está concentrada. Se o problema for ultrapassado, a anatomia humana é o limite. O investigador já pensa em expandir a técnica para órgãos ainda mais difíceis de transplantar, como o pulmão.

Outras descobertas com mão nacional

Evitar uma septicemia
Miguel Soares, do Instituto Gulbenkian de Ciência, descreveu a forma como os órgãos deixam de funcionar numa infecção generalizada (sépsis) e ainda a maneira de o evitar.

Perceber o envelhecimento
João Passos, do Instituto para a Saúde e Envelhecimento de Newcastle (Reino Unido) identificou o processo molecular que termina a actividade das células, um mecanismo ligado ao envelhecimento.

Parasita contra a malária
Miguel Prudêncio, do Instituto de Medicina Molecular, tem como objectivo usar um parasita para descobrir a vacina para a malária. A Fundação Melinda e Bill Gates deu-lhe 72 mil euros.

Testar o cancro do cólon

Purificação Tavares, do Centro de Genética Clínica, lançou um novo teste do cancro do cólon através de uma análise ao sangue.

Fonte: Jornal i



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