Empreendedorismo: Israel, o país das start ups

Janeiro 11, 2011 by  
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Rua Einstein, número 40. No décimo andar do Ramat Aviv Tower, um edifício modesto no norte de Tel-Aviv e a meia hora de caminhada do mar Mediterrâneo, trabalha um ícone do capitalismo no Oriente Médio. Seu nome é Yigal Erlich e, diante do escritório de carpete antigo e da forma como ele se veste – camisa polo verde-musgo, calça cáqui e sandálias de couro –, é fácil se render à imagem de um ancião a caminho da aposentadoria. Porém, como mostra o pouco espaço na agenda de Erlich e o interesse com que empreendedores e investidores de Israel reagem quando seu nome é citado, essa é uma imagem para lá de equivocada. “Ele é o pai das start ups de Israel”, afirma Shmuel Chafets, diretor do fundo de venture capital Giza, que tem sede no mesmo prédio, apenas dois andares acima, e é seu concorrente direto.

Erlich e sua empresa Yozma, a pioneira no país a levantar capital com investidores e injetá-lo em negócios de alta tecnologia, estão em plena atividade. Em novembro de 2010, uma das razões para a sua agenda estar cheia era que uma das empresas do seu portfólio, a produtora de aplicativos para internet Conduit, tornou-se notícia ao atrair a atenção da Microsoft. Numa primeira aproximação, a gigante americana de Bill Gates teria feito uma oferta de compra de US$ 300 milhões pela Conduit. “Adoraria fechar negócio com a Microsoft, mas nossa empresa vale mais de US$ 1 bilhão”, diz um Erlich cuja modéstia, por um breve instante, desaparece.

Poucas pessoas personificam o espírito empreendedor da Terra Prometida com tanta fidelidade. Em que pese sua realização à frente do Yozma (em hebraico, iniciativa), seu feito mais lembrado foi ter levantado um dos pilares de Israel – ou o “toque final” para que sua economia ingressasse no século 21, a despeito da relação trágica do país com os vizinhos muçulmanos que, volta e meia, os faz recuar milênios no calendário.

No posto de cientista-chefe, espécie de superministro do empreendedorismo, Erlich liderou o movimento que, no início da década de 90, fez dos pequenos e médios negócios de tecnologia a grande estrela do crescimento israelense. “Estava claro que faltava algo para deslancharmos”, diz ele, com um traço de orgulho. Ao desatar nós burocráticos, promover a aproximação entre universidades e empresas e imbuir as start ups de um até então inédito sex appeal para fundos de venture capital, ele ajudou o país a encontrar sua verdadeira vocação – e depois saiu correndo para também ganhar dinheiro.

Em matéria de empreendedorismo e inovação, o Brasil tem muito a aprender com esta nação que tem apenas 62 anos, 7,2 milhões de habitantes e território menor que o estado do Rio de Janeiro. Para começar, Israel é atualmente o país que investe o maior percentual de suas riquezas em Pesquisa & Desenvolvimento: 4,5% do Produto Interno Bruto. Em seguida estão Japão (3,2%), Estados Unidos (2,7%) e Coreia do Sul (2,6%). No Brasil, os dados mais recentes dão conta de irrisórios 1,2%. Em 2009, o número total de start ups chegava a 3,8 mil, o que lhes garantia a façanha de ter uma empresa de tecnologia para cada 1,8 mil israelenses. Na bolsa americana Nasdaq, eles são os primeiros depois dos anfitriões, com 63 companhias listadas, deixando para trás Reino Unido, Alemanha, Japão e França. Sua indústria de venture capital, uma das mais dinâmicas do mundo, movimentou US$ 2 bilhões em 2009. Nesta área, seu brilho também tem ofuscado os emergentes: o investimento per capita de VCs que aportaram por lá é 80 vezes maior que o registrado na China e 350 vezes superior ao valor injetado na Índia. De lá saíram, por exemplo, os microprocessadores Centrino e Pentium 4, da Intel, o comunicador instantâneo ICQ, o pen drive e o firewall. Como a Intel, cerca de 200 multinacionais, entre elas Google, General Electric e Cisco, instalaram centros de pesquisa no país.

“Em um mundo em busca da chave da inovação, Israel é o lugar certo para se procurar”, resume o livro Start up Nation, dos autores Dan Senor e Saul Singer, que narra a saga empreendedora de Israel e revela o que o mundo desenvolvido e os emergentes como o Brasil podem extrair dessa história. Best-seller nos Estados Unidos e em parte da Europa, a obra será publicada no Brasil em março sob o título Nação Empreendedora – O Milagre Econômico de Israel e o Que Ele Nos Ensina. (Leia um trecho do primeiro capítulo na pág. 102.) Por trás desse fenômeno, dizem os autores, está uma conjuntura muito particular, que une necessidade, espírito empreendedor e ousadia a uma riquíssima rede de contatos pelo mundo, e uma sinergia invejável entre o ambiente acadêmico e a iniciativa privada. No grande mosaico de histórias e análises escrito por Senor e Singer, enxerga-se que os ingredientes históricos e as características culturais dos judeus já estavam lá há um bom tempo. Bastava o lugar certo, a hora certa e uma série de políticas públicas com o poder de destravar esse potencial.

Fonte: Época Negócios



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