Marketing: O Presidente da República deve desabafar no Facebook?

Março 18, 2011 by  
Filed under Notícias

Acusado de se colar aos jovens, Cavaco mandou “os menos bem informados” lerem os seus roteiros.

Depois do Facebook, a política nunca mais foi a mesma coisa. Comunicar em tempo real para um número alargado de cidadãos é já uma questão de necessidade para os políticos. A proximidade entre eleitos e eleitores começa a ser recuperada online. Mas pode o Presidente da República, a mais alta figura do Estado, desabafar nas redes sociais? As opiniões divergem. 

Após a tomada de posse, Cavaco Silva comentou o seu discurso na página oficial no Facebook. As últimas declarações foram feitas num momento político importante, a passada sexta-feira, dia em que José Sócrates apresentou novas medidas de austeridade. Na opinião de Marcelo Rebelo de Sousa, Cavaco não devia ter comentado o seu discurso na rede social: “O Presidente faz mensagens, não faz desabafos no Facebook”, considerou o conselheiro de Estado.

Para Rodrigo Moita de Deus, director–geral da agência de comunicação Next-Power, Marcelo foi “preconceituoso”. “O Facebook permite chegar a 2,5 milhões de portugueses. É qualquer coisa de extraordinário. Pedir ao Presidente da República que ignore esta ferramenta só porque é a primeira figura do Estado é um erro crasso”, afirma. Já o politólogo António Costa Pinto acredita que as redes sociais podem dar um “um toque de modernidade às instituições políticas”, mas considera que o Presidente da República deve fazer uma gestão cautelosa do Facebook. “As condições da rede alteram o tipo de relação: as pessoas são ”amigas” do Presidente da República e por isso há uma tendência para o igualitarismo. Nesse sentido, é uma plataforma que tende a dissolver a imagem de autoridade e, por isso, Cavaco terá de utilizar esta ferramenta com grande prudência”, diz. O politólogo André Freire vai mais longe: “As instituições (maxime o mais alto magistrado da nação) exigem um recato institucional que não se compadece com mensagens no Facebook. Nesse aspecto sou bastante conservador e institucionalista, um Presidente da República não é nem um comentador, nem um alimentador de um grupo de discussão no Facebook.”

As declarações que Cavaco Silva – ou qualquer outro político que tenha uma página oficial – faz no Facebook podem ser geridas pelos próprios ou por assessores contratados para o efeito. De qualquer forma “são tão válidas como uma declaração oficial”, garante Moita de Deus. Mas para tirar o máximo proveito da rede social o político deve saber comunicar através desta nova ferramenta. “É uma questão de inovar a linguagem. Não podem perseguir as pessoas com os mesmos discursos que fazem fora das redes sociais. Isso não resulta”, diz, e explica porquê: “Os políticos ainda têm medo de ser confundidos com os cidadãos e não tiram partido do potencial do Facebook. Têm de simplificar a linguagem e procurar interagir e é isso que não fazem. Devem responder às pessoas para as procurar envolver novamente na política”. Comunicação mais eficaz, mais directa e mais barata. “O custo com outdoors e panfletos poderá ser dispensado”, acredita o especialista.

cá dentro Muitos deputados já têm páginas no Facebook. Alguns tentam conciliar o lado pessoal, outros confessam que a rede social é apenas um veículo para passar a mensagem. Todos confessam que é a melhor maneira de contactar com os eleitores. “A lógica é ir reportando às pessoas o que vou fazendo. Ao início não era um grande entusiasta mas rendi-me. Tenho imenso feedback e é uma maneira mais fácil de me aproximar dos problemas das pessoas do distrito pelo qual sou eleito”, explica o deputado do CDS-PP Filipe Lobo d”Ávila. “Utilizo o Facebook para reproduzir intervenções e apresentar projectos. A partir do momento em que comecei a usar o Facebook como deputado, a dimensão pessoal acabou”, revela o deputado do Bloco de Esquerda José Gusmão.

A dimensão pública e privada nem sempre é fácil de delimitar. Que o diga o vice–presidente da bancada do PS, Sérgio Sousa Pinto, que viu um desabafo seu contra as medidas do governo, feito via Facebook, causar polémica nos jornais. “O Facebook começou como uma rede de amigos. Mas quando se abre a porta a uma pessoa que não se conhece, abre-se a porta a todas e perde-se o controlo”, afirma. “Nas primeiras ocasiões que dizia alguma coisa no Facebook e vinha a público ficava revoltado e achava um abuso. Porque um post não é uma tomada pública de posição, faz–se num círculo mais ou menos limitado, temos outra liberdade, as pessoas conhecem-me. Mas depois evoluí. Tenho mais de mil amigos e portanto sujeito-me a isso”, confessa. O líder da JSD, Pedro Rodrigues, garante que aceita todos os pedidos de amizade. “É minha obrigação e responsabilidade poder ter pessoas que me seguem porque estão preocupadas com o que estou a fazer enquanto deputado”, explica. A maioria dos políticos usa o Facebook como ferramenta de trabalho. “Dou algum conteúdo pessoal mas privilegio a mensagem política e a intervenção do PCP”, afirma o deputado comunista João Oliveira, que acredita que o Facebook “não é uma nova forma de fazer política, mas apenas uma nova via de a comunicar”.

lá fora Barack Obama foi o primeiro impulsionador da política 2.0. A sua campanha presidencial foi feita em grande escala através das redes sociais. São muitos os líderes políticos que mantêm páginas no Facebook e as abordagens são sempre diferentes. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, por exemplo, utiliza uma linguagem mais coloquial e directa enquanto o primeiro-ministro britânico, David Cameron, opta por um discurso mais formal ao falar na terceira pessoa. Já a chanceler alemã, Angela Merkel, faz declarações curtas e remete para páginas oficiais.

O terreno do Facebook começa agora a ser explorado pelos políticos que se têm de adaptar a uma nova forma de comunicação. Mas ainda é difícil criar um código de conduta que defina o que se pode ou não dizer. Ou desabafar.

Fonte: Jornal i


Enter Google AdSense Code Here

Tell us what you're thinking...
and oh, if you want a pic to show with your comment, go get a gravatar!