Marketing: Alunos trocam cada vez mais de curso ao passar da licenciatura para o mestrado

Abril 27, 2011 by  
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Os estudantes portugueses estão a aproveitar a mobilidade de Bolonha. Durante o curso, mudam de área, de faculdade e de país.

Sempre aconteceu: alunos que escolhem uma área quando entram para a faculdade e descobrem, entretanto, que não era nada daquilo que queriam fazer na vida. Só que antes de Bolonha, tinham de mudar de curso e voltar tudo atrás. Com Bolonha, tudo mudou e está a aumentar o número de alunos que dão uma reviravolta na área quando passam da licenciatura, no final do 3º ano, e entram no mestrado. “Uma das nossas melhores alunas do mestrado em Gestão Internacional veio de Enfermagem”, exemplifica José Ferreira Machado, director da Nova School of Business & Economics, onde metade dos alunos do 2º ciclo vêm de outros cursos. Também a aluna da Universidade do Porto que foi da licenciatura em Biologia para o mestrado em Estudos Anglo-americanos.

Ferreira Machado considera como uma grande vantagem de Bolonha esta possibilidade de fazer aquilo a que chama uma “formação em ziguezague” e critica as escolas, como é o caso de Engenharia, que exigem o mestrado integrado. “Bolonha foi um enorme sucesso e uma enorme conquista. Os alunos podem escolher a formação académica que gostam sem preocupações com a carreira”, defende. A Europa segue, assim, a tradição norte-americana onde as licenciaturas são muito gerais e depois no mestrado é que os estudantes apontam agulhas para o que querem fazer profissionalmente.

Com esta possibilidade consegue reunir-se na mesma turma alunos com perfis muito diferentes e essa é uma mistura que está a dar também resultados positivos. “Esta diversidade contribui para a riqueza da experiência do programa de mestrado, pois estes alunos trazem perspectivas e pontos de vista diferentes”, defende Guilherme Almeida e Brito, director adjunto da Católica-Lisbon School of Business & Economics. Nesta escola, 34% dos estudantes do 2º ciclo vêm de áreas diferentes.

Para as escolas de economia e gestão esta realidade já não é nova: “Temos a experiência dos MBA, que recolhem pessoas de todas as formações. Adquirimos a experiência de formar em gestão pessoas de qualquer área, desde que tenham talento e vontade de aprender”, sublinha Ferreira Machado.

Claro que é mais difícil mudar de letras para áreas com matemática do que o contrário, como lembra a vice-reitora da Universidade do Porto Maria de Lurdes Correia Fernandes, mas não quer dizer que não aconteça. Na Nova, por exemplo, há um aluno do mestrado de Finanças, que veio de Direito. Até porque as faculdades já se estão a adaptar a esta nova realidade e têm previstos cursos de introdução para preparar esses alunos que optam pela mudança.

Gestão procurada por alunos de letras
A grande maioria dos alunos de letras que muda de área vai sobretudo para Gestão e não tanto para Economia ou Finanças, onde é exigido mais ‘background’ em termos de conhecimentos de matemática e estatística, ressalva Ferreira Machado. “Há uma dimensão de efectiva mudança que tem tendência de crescimento na gestão, enquanto recipiente de alunos vindos de áreas com dificuldades de empregabilidade e que tentam através do mestrado aumentar este potencial “, diz António Gomes Mota, presidente da ISCTE Business School. Por outro lado, há muitos engenheiros – que já têm o tal ‘background’ em matemática – que entram em Economia, Gestão e até Finanças. Essa tendência já se vinha a verificar nos MBA, onde muitos dos alunos são engenheiros.

Mas a mudança de área nem sempre é radical e, em muitos casos, trata-se apenas de uma especialização, ou seja, “os alunos fazem uma licenciatura mais generalista e depois, a nível do mestrado, optam por um curso mais especializado, mas dentro da área (como Gestão e depois Finanças ou Marketing, por exemplo)”, sublinha Gomes Mota.

Por outro lado, não é só em termos de mudança de área que a mobilidade está a ser aproveitada pelos alunos portugueses, seis anos depois da introdução de Bolonha. Os estudantes mudam também, cada vez mais, de faculdade e de país durante o curso. Do lado das universidades, esta mobilidade é também uma forma muito atractiva de captar alunos internacionais, cuja presença está também a aumentar nas escolas portuguesas.

“A mobilidade inter-ciclos, inter-universitária e transnacional está ainda em fase de crescimento”, defende a vice-reitora da Universidade do Porto, onde 20% dos alunos do mestrado vêm de outras áreas, confirmando aquilo a que chama “um refrescamento de públicos muito interessante”.

Testemunhos de quem mudou de área

– “Bolonha ajudou-me a mudar a minha vida”, diz Ângela Silva, licenciada em Engenharia Informática, que frequenta, agora, uma mestrado em Gestão da Universidade Católica. “A complementaridade destas duas áreas sempre foi óbvia” para Ângela, que diz também que os “recrutadores” têm mostrado “interesse e curiosidade” por este percurso académico.

– Ana Lúcia Goulart é licenciada em Filosofia e frequenta o mestrado em Psicologia das Emoções no ISCTE. A escolha foi ditada pelo facto de ser professora do ensino secundário, onde dá aulas tanto de Filosofia como de Psicologia. A mobilidade trazida por Bolonha “dá mais hipóteses às pessoas de ajustarem os cursos às suas possibilidades e aos seus gostos”, diz.

– Entre a licenciatura e o mestrado, Inês Botelho escreveu romances. A sua paixão pela escrita e “ligações afectivas à literatura norte-americana” determinaram que, depois de se licenciar em Biologia, fosse tirar um mestrado em Estudos Anglo-Americanos na Universidade do Porto. Uma mudança radical que lhe dá “uma visão mais ampla”.

– Carina Simões licenciou-se em Estudos Europeus na Faculdade de Letras de Lisboa. “Quando acabei, sabia um pouco de tudo e nada em concreto”, conta. Assim, decidiu tirar uma pós-graduação e, depois, um mestrado em Economia Internacional, no ISEG, tanto porque sentiu a “necessidade de aprofundar a área económica” como por trabalhar nessa área.

Fonte: Económico



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