Marketing: O Facebook não é só para jovens

Junho 11, 2011 by  
Filed under Notícias

Isabel Moreira tem 74 anos e, tal como muitos cibernautas em Portugal, já deixou de ir ao Hi5, a rede social que em tempos foi uma grande sensação na Internet portuguesa. Agora vai ao Facebook. Todos os dias. Isabel é uma excepção. Apenas 33 mil perfis do Facebook criados em Portugal são de pessoas que têm, ou dizem ter, mais de 65 anos. Isto corresponde a um por cento do total de contas – os números são do Social Bakers, um serviço que agrega estatísticas sobre esta rede social.

Porém, para Isabel, a informática está longe de ser uma novidade: começou a mexer em computadores há 30 anos. Depois de criar três filhos, resolveu arranjar um emprego. E, para isso, fez “uns cursos de informática e programação”. Acabou por conseguir emprego como secretária e ficou a gostar de computadores. No início da década de 1990, e em desacordo com o marido, gastou 150 contos (“o ordenado todo”) num computador, cerca de 750 euros.

Desde então, sempre teve um computador em casa e o interesse pela tecnologia perdurou – é, aliás, um dos temas sobre os quais partilha links no Facebook. Actualmente, está a frequentar um curso sénior de Ciência, Tecnologia e Cidadania na Universidade Técnica de Lisboa. Com os colegas, montou uma rede social na plataforma Ning, um serviço que permite a qualquer pessoa criar uma rede social própria. E também já fizeram um livro electrónico.

Foi a filha de Isabel Moreira que a convenceu a aderir às redes sociais, na altura em que o Hi5 ainda estava na moda. Porquê? “Por causa dos meus netos. Uma pessoa tem de controlar um bocadinho o que os jovens fazem”, responde. Mas também é útil para partilhar notícias e ver o que os outros partilham, reconhece. E já serviu para encontrar uma ou outra pessoa dos tempos da escola e do liceu, acrescenta.

Acompanhar os netos foi também um dos motivos que levaram Maria do Céu Encarnação a abrir conta no Facebook. Começou a notar que “toda a gente falava do que via no Facebook” e sentia-se de fora das conversas. Por isso, resolveu entrar no mundo das tecnologias e foi tirar um curso de informática na junta de freguesia da zona onde vive, em Lisboa. Foi há quatro anos e Maria do Céu tinha então 80.

O curso serviu-lhe de iniciação; de seguida, os netos ofereceram-lhe um computador e ensinaram-na a fazer o resto. “Eu aponto o que eles me dizem. Nesta idade, uma pessoa já não se lembra, tem de escrever. Mas depois é fácil.”

Maria do Céu não se ficou pela rede social. Tem email criado pelos netos (vozita@…); usa o Skype, sobretudo para falar com uma neta que está em Inglaterra; acha os blogues “o máximo”; faz pesquisas várias no Google e passa algum tempo a jogar online: puzzles – “já os fazia quando era miúda, mas com peças”, palavras cruzadas, mahjong (um jogo de origem chinesa). Mas “o Farmville não”. Graças a tudo isto, passou a sair menos de casa. “Antes saía muito mais. Agora, faço-o de manhã e passo tardes inteiras na Internet, vou ao Facebook, ao Google…”

A ideia de que o Facebook é para jovens não é errada. Em Portugal, a maioria dos utilizadores está na faixa etária entre os 13 e os 24 anos. De seguida, estão os utilizadores entre os 25 e os 44, de acordo com as estatísticas do Social Bakers (que é distinguido pelo próprio Facebook como um serviço de confiança). Os números vão caindo à medida que se sobe na idade. Acima dos 54 anos, estão apenas quatro por cento dos utilizadores.

Estes dados estão dependentes da informação inserida pelos próprios utilizadores e têm em consideração contas que podem ter pouca actividade. Mas os números estão em linha com o estudo A Utilização da Internet em Portugal 2010, feito por várias instituições de investigação e com o apoio da UMIC – Agência para a Sociedade do Conhecimento.

Segundo esta investigação, os mais velhos são também os mais reservados. A partir dos 55 anos (é tida em conta a faixa etária mais velha pelo relatório no que diz respeito ao uso de redes sociais), há 12 por cento que nem sequer divulgam o nome. E o número de “amigos” também tende a ser mais reduzido do que entre os jovens.Francisco, de 71 anos, é daqueles que preferem manter-se discretos e não querem ser identificados com o apelido, embora o tenha no perfil do Facebook. “Já bastam as pessoas que me pedem para ser amigo e eu nunca as vi na vida. Não quero que leiam no jornal e andem lá à procura”, justifica. Só ocasionalmente partilha alguma coisa. Quase sempre, apenas um link para uma notícia que leu. De resto, comenta “de vez em quando” o que os outros publicam e segue a vida dos “mais ou menos 40” contactos que tem online, boa parte são familiares.

Francisco não publica nada pessoal. E muito menos fotografias, o tipo de conteúdo que é quase sinónimo de estar no Facebook. Três em cada quatro utilizadores em Portugal colocam fotos suas nas redes sociais. Mas, na faixa etária mais elevada, este número cai para um pouco menos de metade. Isabel Moreira, que publicou “duas ou três” fotos no perfil do Facebook, tem uma explicação pronta: “As pessoas mais velhas não gostam de se ver. Não se acham tão giras como as novas.”

Fonte: Público



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