Inovação: A arte de criar mentes vencedoras

Julho 4, 2011 by  
Filed under Notícias

Há dois meses, o tenista brasileiro Thomaz Bellucci não é o mesmo jogador de antes. Ele se coloca mais perto da linha de base da quadra. Acerta as bolas quando ainda estão na ascendente, o que confere maior aceleração aos golpes. A movimentação também sofreu alterações. Ele não deixa mais os pés plantados no chão. Acompanha a bola com o corpo, gastando menos energia em cada jogada. Aprendeu também a se defender. Tudo isso – e sua nítida evolução na carreira – pode ser creditado a Larri Passos, seu treinador desde dezembro.

Essas mudanças, porém, são apenas metade da transformação – a sua parte mais visível. Larri considera que a construção de um campeão exige doses iguais de dois ingredientes: treinamento técnico e força mental. “O Bellucci mudou psicologicamente”, diz. “Ele errava uma bolinha e se enterrava. Agora, diante de um problema, reage e levanta a cabeça.”

Larri, um gaúcho de Rolante, de 53 anos, é o técnico de tênis mais famoso do Brasil. Ganhou notoriedade ao acompanhar por 18 anos um fenômeno do esporte: Gustavo Kuerten, o Guga, 43 semanas como número 1 do mundo, US$ 15 milhões em prêmios acumulados. A carreira de Guga terminou em 2008. A de Larri – como acontece com os técnicos em geral – tem sido duradoura. No meio esportivo, ele manteve o prestígio. Mas, para o cidadão comum, era considerado alguém que havia dado sorte, muita sorte, por ter um pupilo genial. Depois das atuações recentes de Bellucci, essa percepção não tem mais como se sustentar. Em maio, em Madri, o jogador derrotou feras como o escocês Andy Murray (quarto do ranking mundial) e o tcheco Tomas Berdych (número 6). Por pouco não bateu o sérvio Novak Djokovic, a nova sensação das quadras. Com esses resultados, pulou de 36º para 22º do ranking (já foi 21º, no passado, mas nunca havia colecionado vitórias contra adversários tão expressivos).

Para extrair esse tipo de rendimento dos atletas, Larri aplica doses combinadas de energia física e mental. Mesmo nos treinos com bola, atua como um psicólogo de raquete na mão. As eventuais correções de golpes são feitas de forma sutil, indireta. “Não adianta dar uma bronca e falar que é errado jogar uma bola na rede”, diz. “Isso é óbvio, e o jogador vai se sentir uma porcaria.” Nesses momentos, em vez de reprimir e destacar a falha, ele cria exercícios para corrigir o problema. Se necessário, faz recomendações verbais, mas nada arrasador.

“Aflição nos olhos”

Larri também procura entender o perfil psicológico de cada pessoa com quem trabalha. Sempre colhe informações com os parentes dos atletas. Assim soube que Bellucci, um paulistano de 23 anos, foi uma criança que não chorava. Ele não externava suas emoções. Hoje, acredita que o rapaz mudou também nesse aspecto. “Quando o conheci, vi uma pessoa que carregava uma grande aflição nos olhos, meio no abismo, que havia passado bastante tempo brigando com si mesmo”, diz. “Hoje, até sua postura perto dos adversários é diferente.” Bellucci agora caminha no vestiário com segurança, como se sua presença ali fosse tão natural quanto a de qualquer outro peso-pesado do tênis.

Larri preocupa-se em encorajar seus pupilos permanentemente. Mesmo depois de uma derrota, a primeira coisa que faz é destacar as boas jogadas na partida. Mas odeia expressões como “tenha confiança” e “pense positivo”. Diz: “Isso não adianta nada, não tem força. Falar para alguém ser positivo significa dizer que ele é negativo. Não faço isso”. Nas partidas, quando percebe que um atleta “está no buraco”, Larri aciona as engrenagens de uma espécie de guindaste psicológico para resgatar o jogador. Ele dispara pérolas como “vai, cavalo!”, “pesado, pesado!” ou “para cima dele!”. Fala com tanto vigor que, mesmo durante a entrevista com Época NEGÓCIOS, em Paris, gesticulava como se estivesse na final de um torneio. Detalhe: “cavalo” era o Guga. Bellucci é o “búfalo”.

Independentemente do animal, a preocupação do técnico com o estímulo é tão grande que, em um treino em Roland Garros, na França, no final do mês passado, Larri começou a aplaudir uma jogada certeira de Bellucci. Ele batia a palma da mão contra as cordas da raquete. Acabou incitando o público que lotava o local a fazer o mesmo. Todos adoraram. Animados, os franceses diziam “oh la la” ao saber que estavam diante do ex-parceiro de Gustavo Kuerten.

Fonte: Época Negócios



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One Comment on "Inovação: A arte de criar mentes vencedoras"

  1. antónio saias on Qui, 7th Jul 2011 10:48 am 

    A ideia da existência de mentes vencedoras remete para a velha e controversa afirmação de Aristóteles quando diz
    que há pessoas que nasceram para serem escravos, outras para serem senhores.

    será mesmo assim? parece verdadeiro é que todos nós somos fruto de pelo menos 3 variáveis
    :
    – genética – como o filósofo grego pretendia se não única a predominante

    – o meio – Einstein ou Pessoa nunca seriam génios se tivessem sido filhos de “guardadores de rebanho”. ou Mozart,ou Bach se não tivessem sido concebidos com boa música de fundo

    – a vontade própria, a capacidade de sacrifício por determinado objetivo. os melhores solistas, na música, só o são porque passam longas horas diárias a estudar e praticar

    na minha opinião de leigo – profissionalmente sou técnico (reformado) de agricultura – as “mentes vencedoras” não se criam. podem/devem detetar-se e estimular tão cedo quanto possível, nos banquinhos de Escola, acompanhando-as, com todos os cuidados pedagógicos.

    no desporto isso já se verifica.: os grandes clubes têm Escolas de formação com acaompanhamento de alunos logo a partir dos 7-8 anos.
    muitas vezes com contratos assinados envolvendo somas fabulosas.

    falta passar a prática para campos diversos como a Ciência, as Artes, por que não a propria Política?

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