Marketing: A nova era da música na web

Setembro 23, 2011 by  
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Com as conexões rápidas presentes em celulares, tablets, TVs e notebooks, o conteúdo multimídia se libertou do disco rígido dos PCs.

Com seus espalhafatosos paletós prateados, topetes e óculos escuros gigantes, a banda The Buggles foi a primeira a ter um clipe exibido na transmissão de estreia da MTV, no dia 1º de agosto de 1981. O motivo da escolha? A ligação entre o momento que a cultura pop começava a viver e a mensagem clara que o grupo passava com a música Video Killed The Radio Star.

É muito provável que você nunca tenha ouvido falar dos Buggles, mas isso não chega a ser um problema. Basta digitar o nome da banda no app do YouTube no seu celular para assistir ao clipe ou entrar no GrooveShark para ouvir de graça todas as faixas que o grupo gravou na vida. Percebeu? Nos tempos atuais, o título seria “Internet Killed The Video Star”.

Com as conexões rápidas presentes em celulares, tablets, TVs e notebooks, o conteúdo multimídia se libertou do disco rígido dos PCs. Tudo está na web à distância de um clique, sem a necessidade de download, cadastro ou pagamento. Apple, Amazon, Google, Microsoft e Sony começam a levar a sério essa tendência e, com uma diferença de poucos meses, anunciaram serviços que consolidam a diversão 100% online.

Como de costume, o anúncio da Apple foi o que mais fez barulho. Com o iTunes Match, que custará 25 dólares anuais, todas as músicas presentes no Mac do usuário serão transferidas para os servidores da Apple, chamados de iCloud, e ficarão disponíveis para serem ouvidas em qualquer aparelho com a marca da maçã. “Vamos rebaixar o PC a apenas mais um dispositivo. Mudaremos o centro da sua vida digital para a nuvem”, disse Steve Jobs no anúncio oficial do iCloud, no meio de junho.

Apesar do tom profético do presidente da Apple, para muitos, os verbos dessa afirmação deveriam ser conjugados no presente. “Como muitos jovens brasileiros, nunca fui de comprar CD ou música online”, diz Paulo da Silva, 24 anos, engenheiro de software sênior do Grooveshark, serviço musical online com sede em Gainesville, Flórida. “Antes do Grooveshark, eu usava o Kazaa e tinha mais de 100 GB de MP3 no meu computador. Hoje não tenho nenhum arquivo de música no HD”, afirma Silva, o primeiro funcionário registrado do Grooveshark, que tem hoje um time de 34 pessoas.

Se num primeiro momento essa migração para a nuvem parecia radical, o cenário atual é de adoção em massa de serviços de música por streaming, como o Deezer, o Last.fm, o Spotify, o Pandora e o próprio Grooveshark. Todos acumulam dezenas de milhões de usuários ao redor do mundo e batem seus próprios recordes de audiência.

Um exemplo recente: o Pandora, que conta com 90 milhões de usuários no eixo Europa-Estados Unidos, estreou em junho na Bolsa de Valores americana com uma oferta de ações no valor de 3,2 bilhões de dólares. Trata-se de um número expressivo, mas que parece pequeno diante do YouTube, com seus 3 bilhões de visitas por dia e 48 horas de vídeo enviadas por minuto. Sem dúvida, a nuvem está carregada de conteúdo e o público, os artistas e as empresas estão adorando isso.

Depois de uma década com mais erros do que acertos na internet, a indústria do entretenimento, enfim, começa a adotar uma postura mais amistosa com os serviços online. Além de negociar o licenciamento do conteúdo para exibição em várias plataformas, já é forte a presença oficial dos donos de copyright nos serviços musicais e nos portais de vídeo como YouTube, Vimeo e DailyMotion. Há também o Vevo, portal tocado por uma parceria entre as gigantes Universal, Sony, EMI e Warner.

Essa fase paz e amor das gravadoras em nada lembra a onda de processos contra seus próprios consumidores na era Napster ou a insistência nos mecanismos contra cópias do tipo DRM, que mais atrapalhavam a vida de quem pagava para baixar músicas do que combatia a pirataria online. O antigo comportamento erodiu as receitas das maiores empresas do ramo.

De acordo com números da Federação Internacional da Indústria Fonográfica, o lucro dos 50 álbuns mais vendidos no mundo desabou 77% entre os anos 2003 e 2010. Por isso, iniciativas como a da Apple e seu iCloud são bem-vindas para as gravadoras.

No modelo de negócios do iCloud, 58% da receita das vendas fica com a gravadora, 12% com a editora e 30% com a Apple. As gravadoras começam ainda a usar a web como uma poderosa plataforma de divulgação para os trabalhos que produzem. “Elas estão se adaptando mais rapidamente a esse cenário e contam hoje com planejamento e métricas para criar estratégias mais fortes de lançamentos pela web”, afirma José Peña, responsável pela operação digital da gravadora EMI na América do Sul. “Além disso, faturam com publicidade na página de exibição dos vídeos, lucram com shows patrocinados e com a divulgação de suas marcas.

A cantora Katy Perry usou o YouTube para publicar um teaser do videoclipe no qual ela interpreta uma adolescente tímida dos anos 80. Depois, foram criados perfis da personagem no Twitter e no Facebook. Resultado: fãs espalharam de graça o lançamento da multinacional EMI.

Ao vivo e em HD

Além da íntima ligação com redes sociais como Twitter e Facebook, o conteúdo por streaming tem suas próprias particularidades, tanto no formato quanto no conteúdo. A Last.fm fez fama por comparar o gosto musical dos usuários e sugerir novos artistas com potencial para agradar aos ouvintes. No caso dos vídeos, está comprovado que menos é mais.

Ou seja, quanto mais direto e objetivo, mais o conteúdo vai dar audiência. “Cada plataforma deve ter uma linguagem específica. Seguindo esse raciocínio, o celular, com tela no formato 4 por 3, terá seu produto exclusivo e tempo de não mais que três minutos”, afirma Giuliano Chiaradia, fundador da produtora Set Experimental e diretor de programas como Estação Globo, Malhação ID e Big Brother Brasil, da Rede Globo.

As transmissões de conteúdo ao vivo por streaming também ganham em audiência e importância. O Google transmitiu partidas de futebol da Copa América ao vivo pelo YouTube. O portal Terra mostrou em tempo real o show de Paul McCartney no Rio de Janeiro, em junho. Cada vez mais os eventos ganham cobertura online e gratuita. “Investir em outras plataformas é fundamental.

Não queremos que aconteça conosco o mesmo que se deu com a indústria fonográfica”, diz Sérgio Lopes, vice-presidente comercial do Esporte Interativo, canal que usou o Facebook para divulgar sua transmissão online do jogo entre Real Madrid e Barcelona, em maio.

O investimento faz sentido. De acordo com números da empresa britânica Sandvine, as transmissões de conteúdo de entretenimento por streaming representarão entre 55% e 60% de todo o tráfego na internet até o final de 2011. Assim, o conteúdo oficial transmitido por canais e gravadoras conseguirá, enfim, vencer a pirataria. O mesmo estudo mostra que a troca de dados por BitTorrent deverá responder, até dezembro, por 10,37% do tráfego global.

Nuvens carregadas

Mas nem tudo é festa para as companhias que embarcaram na onda do conteúdo na nuvem. Começa a surgir um dilema: as empresas que conquistam mais clientes são também as que mais investem. Isso acontece pelo custo crescente com servidores para armazenar e transmitir os dados para os usuários. Para equilibrar essa conta é preciso experiência e até um pouco de sorte.

“Usamos quantidades enormes de banda no nosso serviço. Isso é uma bênção e uma maldição. Gastamos cada vez mais, mas também conseguimos descontos na compra de banda pelo volume de tráfego que geramos”, afirma Ben Westermann- Clark, porta-voz do GrooveShark.

A mesma situação se repete em sites como Pandora e YouTube. Ninguém pode afirmar com certeza que o aumento dos gastos para atender mais gente pode ser bancado pelos lucros com publicidade ou com a venda de assinaturas premium.

A recente entrada de gigantes como Apple, Amazon, Google, Microsoft e Sony nessa onda dá uma pista de que distribuir conteúdo de graça por streaming não é bom apenas para os consumidores. Mostra-se também como um negócio promissor num futuro nada distante. Como dizia a letra dos Buggles: “we can’t rewind we´ve gone too far” (fomos muito longe, não podemos retroceder).

Fonte: Exame



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