Inovação: Contra a crise, empreender e inovar!

Fevereiro 10, 2012 by  
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Questão: podemos inovar num país em crise e sem dinheiro nos cofres do Estado e da Banca? Para os oradores de um seminário que decorreu na Universidade Católica há uma única resposta: sim! Não só é possível, como a melhor forma de desenvolver a economia do país

No âmbito de um ciclo de seminários, organizado pelo PAEGI (Programa Avançado em Empreendorismo e Gestão da Inovação), teve lugar na última segunda-feira, ao final do dia, na Universidade Católica, uma sequência de comunicações subordinadas ao tema “Empreender e Inovar em Tempos de Austeridade”.

O painel de oradores consistiu num grupo heterogéneo de empresários e académicos que se dedicam a diversas áreas, desde soluções informáticas, novas formas de financiamento, produção de acessórios em cortiça, até ao mundo do Design.

Pedro Janela (co-fundador & Group Development  e Diretor do WY Group)  faz uma referência espirituosa aos discursos de ano novo dos nossos Presidentes da Republica, que desde há muitos anos repetem os discursos catastrofistas de crise e desgraça. No entanto, para ele a austeridade é a melhor altura para inovar e empreender e “são e serão sempre os empreendedores o motor da economia”.

Pedro Oliveira (coordenador do Programa Avançado de Empreendedorismo e Gestão de Inovação e do Programa de Doutoramento TCE Carnegie Mellon-Portugal) dá-nos a resposta em números: mais de 50% dos produtos inovadores surgiram em situações sociais de grande precariedade.

Por seu lado, Francisco Fonseca, co-fundador & CEO da AnubisNetworks (líderes de mercado na área da segurança na internet) e membro da direção da ANJE (Associação dos Jovens Empresários), confirma os nossos receios: “Portugal é um handicap neste momento”.  Mas também corrobora as ideias anteriores ao dizer  que “a crise pode ser uma oportunidade” e que a  “performance é boa num indivíduo quando acredita no que está a fazer e não tanto no dinheiro que tem”.

A verdadeira adversidade

Para Pedro Oliveira, adversidade não é nada do que estamos a viver. Verdadeiras dificuldade e tragédias são, por exemplo, doenças incuráveis. E incrivelmente, mesmo nessas situações há exemplos de doentes que, nalguns casos mesmo sem formação em medicina, criaram eles próprios a cura para a sua doença. Ou seja: mesmo na adversidade mais extrema a inovação pode salvar. E acontece.

Relativamente à crise – que se tornou a palavra mais repetida nas nossas conversas – remete-nos para países do 3º mundo. Nas Filipinas 70% da população não tem acesso à banca por questões geográficas e foi lá que a Banca Móvel foi desenvolvida; conceito mais tarde exportado para países mais desenvolvidos. Este tipo de fenómenos aconteceu em muitos outros países onde a precariedade social é uma realidade muito mais extrema do a portuguesa.

Ainda na linha da adversidade dá o exemplo extremo do Japão, no pós-sismo. À falta de soluções governamentais para uma exata contagem dos níveis de radiação, foi a iniciativa e criatividade de uma  pessoa que desencadeou uma fórmula para a solução ao problema. Associou-se em rede a muitas outras e, de forma voluntária, inventaram mecanismos tecnológicos para dar as respostas relativas à radiação, que a população necessitava conhecer.

O sistema não deixa

Pedro Oliveira agarra num cliché cultural português para dar conselhos e exemplos. “Não inovamos porque o sistema não o permite”. Talvez. E quase todos passámos por isso. Mas Tom Petit, um astronauta pouco ortodoxo, não se resignou a seguir os procedimentos a que estava destinado nas suas missões. “Fugiu” à norma e foi fazendo experiências e testes em órbita, como o estudo do comportamento dos líquidos em ambiente sem gravidade. Acabou por revolucionar a NASA com uma outra invenção: uma nova máquina fotográfica , criada com recursos técnicos mínimos, que obtém imagens inovadoras da terra vista do espaço.

Olhamos uma dessas fotografias, projetadas num grande painel, e ele indica a Península Ibérica e Portugal, enquanto afirma: “temos a responsabilidade acrescida de tornar Portugal um pais bonito”. Do pouco fazer muito. Ideia que é corroborada por Pedro Janela: “tudo se faz com absolutamente nada”.

“Sempre que se trabalha em parceria ganha-se”, Guta Moura Guedes

Paulo Silva Pereira, membro fundador da Plataforma PPL (Orange Bird) trouxe-nos um discurso mais social, senão mesmo sociológico, apesar do seu passado como consultor financeiro. Segundo ele, o mundo está a transformar-se ao nível da capacidade colaborativa e associativa dos cidadãos, que anteriormente à internet e redes sociais não era possível, pelo menos de uma forma tão eficaz. Exemplifica: o desenvolvimento do Twitter em Portugal foi feito através do Crowdfunding. De uma forma simplista este conceito significa o investimentos de uma multidão (crowd) num projeto – que de outra forma não conseguiria financiamento. Acredita que o Crowdfunding é uma forma de democratizar o financiamento e este momento de dificuldade é o ideal para o desenvolvimento deste tipo de plataformas (cruzam dados online, numa primeira fase).

O Crowdfunding pode inclusivamente apoiar, e fá-lo já em Portugal através da plataforma PPL, jornalistas e documentaristas, atualmente desempregados, em projetos pontuais propostos e elaborados por estes e que podem vir a ser uma rampa de lançamento para a reintegração no mercado de trabalho. Para isto funcionar há algo novo a acontecer: a cada vez maior partilha de informação entre comunidades ou interessados num mesmo projeto, seja comunitário, social, artístico ou de turismo.

Paulo S. Pereira interroga-se acerca do facto de ainda não se estarem a desenvolver em Portugal infra-estruturas de receção dos reformados do norte da Europa que vêem Portugal como um destino apetecível. Porque não partilhar recursos? Porque não um investimento coletivo?

Guta Moura Guedes (diretora da Bienal de Design, Arquitectura e Criatividade Contemporânea) não fala em financiamentos coletivos (até porque tem o único projeto deste painel que obtém fundos estatais) mas opera com parcerias e co-produções a um nível internacional. Acompanha a linha de pensamento de Paulo Oliveira referente à necessidade de partilhar conhecimento, educar o publico e da vontade de colocar Portugal nos roteiros internacionais.

“Estimular a capacidade crítica e criativa no dia-a-dia é uma forma de desenvolvimento social”, afirma Guta Moura Guedes. Crê que a razão do sucesso da bienal Experimenta Design se deve ao fato de ter procurado algo diferenciador. Cria espaços quando se apercebe que falta algo. A estratégia, tal como no caso dos outros empresários, foi essencial – neste caso foi o facto de escolherem um tema para cada uma das edições. Foi algo diferenciador e inovador a nível internacional, quando começou, nos anos 90. Com 6 edições da Bienal, Guta acredita que o projeto “contribui para a alteração da imagem cultural de Portugal”.

Conselhos aos empresários

Pedro Janela iniciou sua empresa (WY Group – Full Service Branding and Web Agency) em 2001, quando ainda pouco ou nada de fazia nessa área. Tinha 5 funcionários e uma faturação de 300.000 euros. Hoje fatura 8 milhões de euros. Mas apesar de tal sucesso assegura: “10 anos não é nada”. Tudo demora muito tempo a construir e não há sucessos imediatos. Alerta para o facto de as ideias valerem muito pouco pois o fundamental é encontrar a estratégia adequada para pô-las em prática

Pedro Janela aconselha quem está a iniciar-se no mundo empresarial a mentalizar-se de que vão “ganhar menos e trabalhar mais”.  Mas que a recompensa vale a pena – a realização de se “estar a criar um valor e ter mais liberdade”.

Francisco Fonseca concorda: o “difícil é implementar as ideias”. E diz que o problema em Portugal é que “inventamos demais e não inovamos”. A imagem de um canivete suíço surge durante a sua apresentação; atenção novos empresários –  preparem-se para “fazer coisas que nada têm a ver com o objetivo principal da empresa, pelo menos durante os primeiros tempos”. Dá ainda algumas dicas curiosas: valorizar os colaboradores, não exigir demasiado deles (trabalhar durante muito tempo 10, 11 ou 12 horas por dia vai ter custos mais tarde ou mais cedo) e não descuidar a família e os outros setores da vida.

Por seu turno, Sandra Correia  (Co-fundadora & CEO da Pelcor) acredita no factor sorte para que um negócio seja bem sucedido. Mas  aceitar os fracassos  e olhar para eles como força para continuar, e nunca desistir, é muito importante. Sandra já conquistou várias distinções e prémios nacionais e internacionais na área do empreendorismo. É a mãe da utilização da cortiça para fins que não as tradicionais rolhas.

Fonte: Visão


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