Inovação: O problema do futuro é que não existe

Maio 18, 2012 by  
Filed under Notícias

É o fascínio com os Jetsons e o Star Trek que justifica que a ideia de futuro seja povoada de robôs que limpam a casa, televisões com personalidade e carros voadores. Por algum motivo, os filmes futuristas têm sempre umas roupas esquisitas, monocromáticas e geométricas, de plástico fluorescente ou então todas rotas (no caso de ter havido uma terceira Guerra Mundial ou um cataclismo nuclear).

Curiosamente, o futuro tem a mania de não ser como o projectámos. Há uns dez anos pensava-se que os telemóveis iam ser finos como uma caneta, que os livros em papel estavam condenados e que os videojogos iam incluir um fato completo de realidade virtual. Afinal, os telemóveis estão cada vez maiores, o Kindle não acabou com os jornais e agora joga-se usando apenas as mãos, com os sensores de movimentos que tornaram os comandos coisa de meninos.

Prolifera também o que eu chamo de “futuro reciclado” e infelizmente não tem nada a ver com o reencaminhamento de resíduos. De tempos em tempos aparece uma marca que, surpresa das surpresas, desenvolveu um forno que põe o frango a cozinhar sozinho e um frigorífico que fofoca com o micro-ondas enquanto faz compras no supermercado online. Há uma década que isto é o futuro, e no entanto continuamos a ter de ligar o fogão manualmente.

De tempos a tempos aparece o “verdadeiro 3D”, que vai convencer as pessoas a porem óculos para verem o telejornal como se estivessem no estúdio. É verdade que há cada vez mais conteúdos e diversidade de aparelhos – de consolas a smartphones – mas o efeito de massas está muito longe de ser atingido. E não nos esqueçamos que o 3D anda a tropeçar por aí desde os anos cinquenta do século passado.

Para não falar de pagar as contas com o telemóvel, que de caminho também é passe e chave do carro. Esta ideia do “porta-moedas” electrónico é espectacular, mas também anda a ser mastigada há que dúzias de anos. Aparentemente, conseguimos ser convencidos a pagar com uns cartões de plástico que ainda por cima nos iludem, porque não vemos o dinheiro real a sair da carteira para a mão do vendedor. Soluções para pagamentos com o telemóvel aparecem e desaparecem com alguma frequência. Tal como o NFC, que já devia ter revolucionado as prateleiras dos supermercados há anos. Bastaria pôr os itens dentro do carrinho e automaticamente a conta estava feita, porque a tecnologia Near Field Communications permitiria essa troca. News flash: os códigos de barras em papel são muito mais baratos. O último grito é pôr as pessoas a registarem os produtos e a pagarem sozinhas.

O problema do futuro é que não existe. Quando lá chegamos é presente e dificilmente desmaiamos ao avistar um carro com computador de bordo super inteligente (hey, o Kit deu cabo de todos os carros do futuro) ou um vidro que afinal é a televisão e tem um médico do outro lado a falar de colesterol. Seria estranho que acertássemos 100% em previsões sobre as inovações do futuro, a não ser que algum de nós fosse possuído pelo espírito de Steve Jobs. Que, aliás, teve uma capacidade tremenda de transformar o já existente em futurista, com uma roupagem diferente.

Não posso é deixar de ter uma sensação de “dèjá-vu” cada vez que esbarro com uma inovação tremenda relacionada com algo que já foi demonstrado/proposto/experimentado há uma década ou mais. Não é a tecnologia que é nova. A sua massificação é que é.

Fonte: Dinheiro Vivo



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