Marketing: Perguntem-me coisas. O cúmulo da histeria social

Agosto 22, 2012 by  
Filed under Notícias

Durante algum tempo, aturámos a moda das perguntas parvas no Facebook. Se nada mais chateasse nelas, bastavam os terríveis erros ortográficos da maioria dessas perguntas, entre o “já fizes-te?” e o “à bocado”. Mas estas perguntas costumam ser comunitárias. Música favorita, clube, hobbies. Chato, mas dá para ocultar.

O cúmulo do narcisismo social não está no Facebook. Nem no Tumblr, onde uma das grandes distracções dos utilizadores é fazerem e responderem a perguntas. Nem sequer no Twitter, onde ainda há quem descreva absolutamente todos os seus passos “acabei de ver uma loira jeitosa” “agora fechei a porta e entalei-me” “não sei se coma queijo ou maçã”. Como é que este tipo de pessoas mantém uma legião de seguidores é a questão que se impõe.

O pináculo deste egocentrismo agudo que as redes sociais encorajam está nos sites perguntem-me-coisas-agora. A moda tornou-se pegajosa com o Formspring, que no ano passado apareceu em força mas não se propagou na Europa acima de uma certa faixa etária (a Formspring é norte-americana).

Agora, aparece a Ask.fm, uma invenção da Letónia que em pouco tempo até já ultrapassou a Formspring em tráfego. É uma praga infernal. Aparece em todo o lado a súplica “perguntem-me coisas. O que quiserem” (também era melhor que houvesse regras para as perguntas, penso quando leio isto).

A Ask.fm ganha 60 mil novos utilizadores por dia. Suponho que a facilidade de registar usando a conta do Facebook ou do Twitter ajude, mas os 37 milhões de visitantes mensais mostram que esta é uma tendência sólida. As pessoas estão desesperadas por interacção. Já não lhes bastam os “likes”, os “comments”, os “retweets” e os “reblogs”.

Não. Existe uma sede insaciável por atenção. As pessoas querem que os outros, não importa quem, se interessem por elas e façam perguntas. Não deixa de ser curioso, já que contrasta seriamente com o comportamento Deus-nos-Acuda de cada vez que mudam regras de privacidade no Facebook.

Já estamos longe do conceito Yahoo! Answers, em que uma pessoa põe uma questão e espera que a comunidade ajude a resolver. Isto é muito mais pessoal; e o facto de se poderem fazer perguntas anonimamente faz toda a diferença.

Olhando para o stream actual de perguntas no ask.fm, a coisa vai do “de que cor é a tua escova de dentes” até “o que achas de pénis grandes?”. A rede encoraja o desenrolar de conversas. É como um chat público e disfuncional. Quase tão perturbador como o quase defunto ChatRoulette.

Não gosto do radicalismo de quem detesta tudo o que é rede social e suspira por um regresso ao antigamente, em que se escrevia cartas e se tocava à campainha a perguntar “a Sónia está?”. Mas não deixa de ser ligeiramente preocupante pensar que há toda uma geração a crescer agarrada a esta miríade de redes sociais, construindo a sua personalidade e auto-estima com base na quantidade de seguidores, na quantidade de perguntas e na quantidade de likes.

Ao contrário da geração anterior, que tem um pé no mundo analógico e outro no digital, as referências da nova geração são menos palpáveis. Saberemos fazer esta transição correctamente? Enquanto penso nisso, vou ver mais umas perguntas parvas no Ask.fm.

Fonte: Dinheiro Vivo



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