Ensino: 8ª Mostra de Ciência, Ensino e Inovação
Março 26, 2010 by Inovação & Marketing
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A Mostra foi inaugurada hoje pelo reitor da Universidade do Porto e decorrerá até domingo no Pavilhão Rosa Mota (Palácio de Cristal).
Este ano a iniciativa ficará marcada pela aposta em áreas inovadoras como o Mar e as Indústrias Criativas, a Mostra 2010 abre-se a um número recorde de alunos do ensino básico e secundário. Ao todo mais de 7 mil jovens de cerca de 80 escolas terão a oportunidade única de, num mesmo local, reunir informação sobre os cursos e áreas de investigação da maior universidade portuguesa e contactar directamente com os seus estudantes e professores.
Além das dezenas de actividades que decorrem em permanência nos vários stands, será possível viajar no planetário portátil do Centro de Astrofísica da U. Porto, assistir à final de um concurso de pontes de esparguete ou acompanhar uma aula de desenho ao vivo com estudantes da Faculdade de Belas Artes.
Com entrada gratuita, a Mostra da U.Porto estará aberta ao público, na quinta e na sexta-feira, entre as 10 e as 19 horas, no sábado das 11h às 23h e no domingo, das 11 horas às 19 horas.
Fonte: Maia Hoje
Entrevista a Paulo Pereira de Silva
Março 26, 2010 by Inovação & Marketing
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Paulo Pereira da Silva, presidente da Renova, tem fé nas ideias arrojadas e acredita que o risco compensa
No gabinete do presidente da Renova não se pode entrar de gravata, diz a sinalética que está à porta. Aqui não há lugar para gente convencional ou acomodada. “Não gosto de pessoas amorfas”, exclama Paulo Pereira da Silva. Diz ser um homem prudente, mas que gosta de arriscar. “Tenho de correr riscos e lançar muitas coisas, se não morro.”
Este gestor inovador é um homem de fé, que reza todos os dias, e que – apesar de estar sempre ligado ao Facebook e outras redes sociais – precisa de estar sozinho e de fazer alguns retiros por ano. Sem mulher nem filhos, é um estudioso compulsivo, viciado em aprender. Procura novas experiências em cada conversa ou evento. Aliás, foi num espectáculo do Cirque du Soleil que se inspirou para criar o rolo de papel higiénico preto, que catapultou a empresa lusitana para as páginas dos jornais e revistas internacionais. Nesta entrevista, revela como criou um viveiro de ideias dentro da Renova, como é gerir com mais de 200 accionistas, o que aprendeu com o flop da marca de cosmética Dosha, e admite que é um físico quântico falhado (área em que se licenciou na Suíça). Depois de querer ser médico, matemático e físico, tornou-se um dos mais emblemáticos e arrojados industriais portugueses.
“Em qualquer coisa que faças, age com prudência e respeita os fins” é o seu lema de vida. Como é que compatibiliza a prudência com a inovação? Sacrificando o curto prazo pelo longo prazo. No meu primeiro dia de trabalho escrevi essa frase numa folha de calendário e coloquei-a na minha secretária, para não me esquecer disso. É preciso saber respeitar os fins, relativizar as coisas e ter noção da dimensão do mundo. Para mim, a prudência está ligada ao facto de as pessoas terem noção daquilo que são e não são, do que conhecem ou não.
Quando recruta alguém para a sua equipa avalia essa postura?
Não gosto de pessoas amorfas, mas de pessoas com alguma personalidade. Naquelas que trabalham aqui, no núcleo central de inovação, gosto que tenham capacidade de precisão e de racionalizar. É preciso ter uma enorme criatividade, sendo como uma criança ou um artista. Gosto também que tenham capacidade de resistência à derrota. Por isso, o primeiro treino que fazem passa por pô-las a discutir comigo. Quero que sejam capazes de, mesmo perante algo negativo, continuarem. Isso é muito importante para a vida.
Certos investigadores acreditam que os homens são mais criativos do que as mulheres, por serem eternas crianças. Concorda?
Não tenho ainda resposta, nem experiência para o dizer. Neste momento começo a ter mulheres na gestão de produção e fazem um trabalho perfeito. Qualquer dia ainda temos de arranjar quotas para homens…
Mas há uma criança dentro de si?
Eu espero que sim, que exista. Sinto que tenho uma gula de conhecer, de aprender e isso limita-me em tempo, porque me obriga a passar os fins-de-semana a estudar, a ler e a ouvir física em podcast. E estou viciado no Kindle (livro electrónico da Amazon).
Como se pega esse vício de aprendizagem contínua à sua equipa?
Eu não tenho de fazer ‘n’ pessoas iguais a mim, nem criar clones. Gosto de ter gente diferente, com experiências distintas.
Num cartaz à entrada da fábrica lê-se “why not?”. Foi o que responderam os accionistas quando lhes falou em fazer papel higiénico preto?
Ou foi difícil convencê-los? Foi fácil. Eu acho que o risco é não lançar produtos. Se eu quiser ser prudente tenho de correr riscos e lançar muitas coisas, se não morro. A prudência não é imobilismo, nem quietismo. Para ser prudente tenho de inovar. Caso contrário, sou imprudente.
Mas qual foi a primeira reacção?
Foi de incredulidade, riram e pensaram ‘está maluco’. Eu defendo sempre que todos, até os accionistas, não se devem inibir de propor coisas diferentes, nem censurarem ou matarem a criatividade.
Nas empresas estimula-se a prática de brainstorming, mas depois matam-se, à partida, as ideias mais inovadoras. Como se contraria essa tendência?
Implica haver uma cultura de inovação e isso é uma coisa de todos. Essa cultura de inovação foi conseguida na Renova, onde temos um viveiro de ideias. Fomos a primeira empresa a ter a inovação certificada pela Cotec, mas, mesmo com a certificação, quis que esse viveiro de ideias continuasse informal.
É por isso que as 30 pessoas que trabalham perto de si estão num open space informal, que até tem dois baloiços?
A inovação é como uma bola de neve. Uma invenção até pode surgir durante um almoço ou um café. É por isso que tudo está feito para que as pessoas tomem café juntas, almocem juntas, conversem enquanto andam de baloiço. É por isso que estão sentadas perto umas das outras, misturando áreas distintas. A cultura de inovação tem a ver com a vivência no dia-a-dia e com a vontade de crescer.
Hoje uma ideia para ser nova tem de ser extremamente sofisticada. Normalmente o que há mais é uma declinação. Pode ter algo novo, mas não é a relatividade de Einstein. E temos de ter a noção de que papel higiénico preto não é isso, se bem que foi a ideia que teve maior impacto na imprensa.
Certas sextas-feiras à tarde reúne a sua equipa com convidados, que vêm de fora da empresa, para partilhar experiências. Desses exercícios que ideias já retirou?
Da última vez foi com um artista. Retiro imensas ideias das conversas. Por exemplo, todo o racional que está por trás do nosso advertising, presente nos aeroportos, vem de uma conversa sobre espaços que tive com um geógrafo. Outro exemplo: em 2009 fui operado às córneas porque estava quase cego e o meu médico, que me fez os transplantes na Holanda, cada vez que me explicava uma coisa dizia: ‘isto faz sentido para ti’. Aprendi com ele que temos de explicar bem às pessoas o que queremos, qual é a finalidade, e perguntar-lhes se faz sentido para elas.
Esteve quase cego e teve de ser operado aos dois olhos. Teve medo ou a sua fé ajudou-o a superar esse momento?
Não tive medo nenhum. A fé teve e não teve que ver… Acho que vale a pena preocupar-me só até ao momento da tomada de decisão.
É um homem sem medos?
Eu acho que a esperança é uma coisa importante. Se eu fizer tudo o que está ao meu alcance e me informar, depois entrego-me nas mãos de quem sabe e acabou-se… o Criador que faça o que interessa.
Por que razão a ardósia que está no seu gabinete está cheia de fórmulas de física? Mostram até onde o homem chegou na compreensão do universo, ou seja, onde até hoje Deus deixou o homem chegar. Acredito que existem valores e absolutos, e nem tudo é relativo. Acredito que existem fins.
Qual é que é o fim de Paulo Pereira da Silva?
… hum, não sei. Ser fiel a mim próprio e ser fiel àquilo que Deus quer de mim.
O que seria ser infiel?
Seria não arriscar tudo para cumprir esse dever ser. Tenho uma inquietude agostiniana (referindo-me a Santo Agostinho).
Esta sua constante inquietude pode criar ansiedade nos colaboradores… Eles acalmam-me (risos)… Eu não faço nada, nenhum rolo de papel higiénico. Aprendi esta frase com Benjamim Zander, maestro da Orquestra Filarmónica de Boston, que veio a Portugal recentemente e que escreveu o livro “A Arte das Possibilidades”. Ele disse: “Eu não toco uma única música”. Também na Renova, não sou eu que toco, não sou eu que faço um único papel higiénico. O que eu posso fazer aqui, e citando as palavras dele, “é a acordar as possibilidades que existem nos outros”. Às vezes é preciso subir ou baixar a temperatura (como na física).
O que lhe faz saltar a tampa?
É ver que há desperdício de inteligência. É eu saber que há gente que é capaz e que não está a usar o seu talento.
Tornou um produto básico um ícone fashion. Qual foi o click que fez isso? Foi o facto de o papel deixar de ser tabu e passar a haver uma relação emocional. O preto deu-nos uma notoriedade tão grande e em países onde não estávamos que o desafio era e é conseguir transformar isso em negócio. Foi conseguido, mas quero mais.
Como criar essa relação próxima com o cliente? Afinal, trata-se de papel higiénico…
A nossa última experiência foi feita no Norte Shopping, no Natal, com um quiosque Renova. Era como se fosse uma loja de gomas, onde as pessoas escolhiam as cores que queriam. Muita gente comprou rolos como presente de Natal. E foi muito engraçado ver que algumas pessoas apareceram para trocar a cor. Questionei-me sobre o que é que está por trás dos comportamentos, porque é surpreendente ou, no limite, absurdo.
As cores fortes do papel são a sua nova e poderosa arma de venda nos hipermercados?
Sim, mas os lineares onde os nossos produtos são vendidos são ainda muito tristes. Há muito para mudar. Eu ando pelo mundo inteiro, sempre que viajo, a tirar milhares de fotografias a lineares exactamente por isso. A decisão de comprar é uma coisa importantíssima, que envolve estética, cores, cheiros, etc. Sobretudo nos países com mais poder de compra, é importante que as pessoas tenham escolha, tenham cores.
Os produtos ecológicos têm cada vez mais procura. O Renova Green é o novo preto?
A área ambiental é cada vez mais importante. Renova Green é uma linha de produtos ecológicos 100% reciclados e bio. É um produto de qualidade, mas é difícil de comunicar. Ainda vejo empresas, em Portugal e fora, a usar o argumento de venda das fibras virgens. Acho que é chocante, porque se trata de um produto de uso final.
As tintas, que dão cor aos rolos, obrigam a maior preocupação ecológica? Sim. E o produto é mais caro para colmatar o impacte ambiental. Dentro da Renova temos a nascente do rio Almonda e temos uma ligação com a água muito importante, e há questões éticas e de sustentabilidade das quais não gosto de dizer que somos bons. Isso testemunha-se. Aliás, os relatórios de sustentabilidade soam-me artificiais.
Numa altura em que os consumidores se refugiam nas marcas próprias das cadeias de distribuição, fazer produtos para o Pingo Doce é como dormir com o inimigo?
Eu digo que não, com toda a força. É antes dormir com alguém que deveria seduzir. Estamos ambos no mesmo barco e é importante trabalharmos juntos. Tenho sempre aqui (no gabinete) um carrinho de supermercado para nunca me esquecer do primado do cidadão que está à frente do linear. Nós lutamos por espaço no coração do cidadão e nos lineares. Tenho de ter produtos que façam sentido para ambos.
Lançou várias campanhas internacionais, nomeadamente com a figura de Jesus, que chocaram. Estão previstas outras do género?
Temos um projecto, feito com uma artista internacional de fotografia, que está prestes a sair, mas não será em Março… e mais não digo.
Neste mundo global, também já é um dos viciados no Facebook. O que o leva lá?
Vou todos os dias. Gosto de ver o que alguns jornalistas dizem e sinto-me informado em primeira mão. Também foi importante ter reencontrado os meus amigos da Suíça.
Mantém contacto com os seus colaboradores através do Facebook?
Eu não convido ninguém que trabalhe na Renova. Não quero que se sintam obrigados a aceitar a amizade. Mas já pedi a alguém que se estava a candidatar a trabalhar cá que colocasse o perfil no LinkedIn, para ver. Também uso o Twitter e outras redes. Sinto-me tão feliz num mundo em rede e tão preso num mundo geográfico e com fronteiras!
Sendo cosmopolita, como lida com a realidade de província que rodeia a fábrica em Torres Novas?
Vivo no Chiado e em alguns dias da semana não estou na fábrica. Mas eu sinto-me bem em todo o lado. Não pode haver maior provincianismo do que achar que Lisboa é o centro do mundo e que as pessoas que estão ali são as maiores. Tenho (em Torres Novas) gente fantástica, com capacidade de saber tudo o que se faz de novo em vários países.
É um apreciador do Japão, onde se inspirou para criar a marca de cosmética Dosha, em 1999. Dois anos depois acabou. Foi um flop? Como lidou com isso?
Sinto que foi talvez a área em que mais aprendi. Lidei perfeitamente com isso. Nós lançamos, mas não produzimos nada. Fizemos as fórmulas e o design e arranjámos quem nos fizesse os produtos, que estiveram no mercado dois anos. Não houve um investimento industrial. Aprendi a desmaterialização da produção. Há marcas de cosmética que não fazem nada. Só têm o nome e o know how. Se fosse hoje teria feito a marca debaixo da Renova, mas na altura não era possível porque a Renova não era aquilo que é hoje. Hoje usamos no papel muito do know how que aprendemos com cremes. Mas a marca Dosha foi descontinuada.
Esta empresa tem cerca de 200 accionistas. Como é lidar com tantos clãs, quando é sabido quão difícil é gerir empresas familiares?
Não gosto de ver as coisas tão personalizadas. A Renova tem um conselho de administração e os consensos são uma coisa muito importante e é bom que existam, tal como a prudência. A Renova é sui generis, porque quando foi adquirida em 1963 por seis ou sete famílias não teve, desde a origem, um fundador. Teve, desde o princípio, uma gestão muito formal e que não era composta pelo dono ou o filho do dono.
Mas, no seu caso, é neto de um dos fundadores. Sentiu o peso do estatuto de herdeiro?
O meu avô foi um dos fundadores, mas nunca teve nada a ver com a gestão. Eu sou a única pessoa da minha família alguma vez ligada à gestão da Renova. Não senti esse peso, porque ele não estava cá e ninguém o conhecia. Comecei como engenheiro assistente do director de transformação de papel, depois de regressar na Suíça.
O que queria ser quando era pequeno?
Sempre gostei de ciências no sentido de perceber como as coisas funcionam, sem saber bem o que fazer com isso. Na minha redacção de quarta classe, quando me fizeram essa pergunta, disse que queria ser médico. Mais à frente, gostei muito de matemática e física e fui achando que o caminho era por aí.
É um físico quântico que não exerce a profissão. Isso é uma frustração para si?
Sou um físico falhado (risos). Foi uma grande frustração durante muito tempo, mas continuo a estudar física. Há áreas que me interessam muito, como o tempo. Um dos últimos livros que li, e já o oferecei a várias pessoas, chama-se “O carteiro tempo não passa duas vezes”, é sobre a diferença entre o curso do tempo e o sentido do tempo, uma grande questão do ponto de vista abstracto e o sentido das coisas. Tenho pena que em Portugal haja uma baixa cultura científica.
A física quântica ajuda-o no dia-a-dia enquanto gestor?
A física ajuda-me a ser humilde e a perceber que a natureza e a realidade não são evidentes.
Não dispensa fazer retiros. Porquê?
Preciso de pausas, de me afastar da realidade e vê-la de fora, e preciso de silêncio. Não gosto muito de lhe chamar retiros, e podem acontecer em diversos sítios. Preciso de alguma contemplação para o meu equilíbrio.
Reza nesses retiros?
Eu rezo todos os dias.
Onde vai ser o retiro de 2010?
Não está calendarizado. Pode ser no deserto. A estabilidade que isso me permite tem a ver com estar bem comigo próprio.
Fonte: Expresso