Inovação: Quem precisa da banca quando pode obter financiamento da multidão que está online?

Julho 27, 2011 by  
Filed under Notícias

O crowdfunding ganhou força com o colapso dos mercados e a falta de liquidez dos bancos. Chegou finalmente a Portugal com dois novos projectos.

A “culpa” talvez tenha sido dos Marillion, banda britânica que em 1997 deixou de ter dinheiro para pagar uma tournée nos Estados Unidos. Mark Kelly, teclista, deu a má notícia aos fãs na Internet e o resultado foi surpreendente: 60 mil dólares (cerca de 41 mil euros) chegaram às mãos da banda graças a donativos. Problema resolvido.

Mais de uma década anos depois, o fenómeno do crowdfunding – acção de cooperação colectiva em que pessoas financiam online iniciativas e projectos que podem ser lucrativos ou não – ganhou força com o colapso dos mercados e a falta de dinheiro da banca. Mobiliza centenas de sites e milhares de pessoas em todo o mundo e chegou finalmente a Portugal pela mão de duas novas empresas, a Orange Birds e a Massivemov.

A Orange Birds lançou o seu site no início de Julho e espera “com entusiasmo” reacções e sugestões. Na plataforma PPL (abreviatura em inglês de pessoas, em www.ppl.com.pt) será possível encontrar projectos de empreendedores de áreas que podem ir desde o cinema a aplicações para telemóveis.

Paulo Silva Pereira, consultor de serviços financeiros durante 13 anos na Accenture, Yoann Nesme, engenheiro de sistemas electrónicos que fez carreira na Microsoft, Pedro Domingos, que passou pela Capgemini e Timwe, e Pedro Oliveira, investigador e professor auxiliar na escola de Gestão e Economia da Universidade Católica, conheceram-se durante o The Lisbon MBA e apaixonaram-se “pelos temas de colaboração colectiva e pelo potencial de inovação que existe em cada indivíduo”.

Com o PPL, querem apoiar projectos e ideias “onde quem contribui é gratificado através de prémios criativos e participações no projecto ou ideia”, referem, numa resposta conjunta, enviada por e-mail. Resumindo, um apoiante escolhe a ideia que mais lhe agrada, faz o seu donativo financeiro – sem limite mínimo nem máximo – e, em troca, recebe uma recompensa. Se o projecto em causa é para apoiar a encenação de uma peça de teatro poderá receber um convite para assistir à estreia, por exemplo.

O PPL cobra uma comissão de cinco por cento, mas apenas nos projectos que conseguirem obter o total do financiamento pretendido. Caso o montante definido pelo promotor não for atingido dentro de um prazo previamente estabelecido, os apoiantes recebem todo dinheiro de volta. A comissão do PPL serve para “promover o crowdfunding em Portugal”.

“Faltam incentivos ao empreendedorismo, nomeadamente a projectos pequenos e médios que consigam ultrapassar as actuais barreiras rígidas ao financiamento e à iniciativa em geral”, defendem os empreendedores, que preferiram não avançar dados concretos do investimento que fizeram no lançamento do negócio.

Alternativa às burocracias

No Porto, o Massivemov começou pelo Facebook e também já está online. O site (www.massivemov.com) estreou dia 7 de Julho já com projectos específicos. Gabriela Marques, 32 anos, e João Marques, 34 anos, venderam recentemente a Pecofil, empresa que detinham no sector do comércio de combustíveis, e decidiram investir 20 mil euros na criação da plataforma colaborativa.

“Estamos em tempos de crise e esta tem de ser contornada com novas formas de empreendedorismo. Todos podem ter uma oportunidade de concretizar os seus projectos através do financiamento cooperativo”, defende Gabriela Marques. O Massivemov, continua, é uma alternativa “às burocracias e dificuldades”. O site será gerido como uma empresa, mas não cobra qualquer comissão pelos valores angariados. A intenção é conseguir um patrocinador oficial e exclusivo.

No Massivemov os donativos começam a partir dos cinco euros e o pagamento será feito através do sistema Paypal. “É a única plataforma que permite que os apoiantes façam uma promessa de pagamento”, explica Gabriela Marques. O valor só é debitado na conta Paypal de quem apoia se o projecto conseguir, pelo menos, 80 por cento do financiamento pretendido.

“Um dos projectos que temos é o de duas pessoas que constroem mobiliário em cartão. Em troca de financiamento dão descontos na aquisição do produto ou uma peça de mobiliário, dependendo dos montantes”, conta Gabriela. Também há um designer que quer lançar uma linha de T-shirts e uma quinta no Douro que precisa de um forno para cozer barro.

Pedro Oliveira, professor de Paulo, Yoann e Pedro no MBA onde todos se conheceram, tem vindo a investigar o papel do utilizador no processo de inovação e no financiamento de novos projectos, e há pouco tempo apresentou o seu trabalho na NASA. Em tempos de contracção financeira, também a prestigiada instituição procura novas formas de obter capital. Em conjunto com Miguel Pina e Cunha, professor na Universidade Nova de Lisboa, identificou 183 plataformas de crowdfunding em todo o mundo, desenvolvidas por utilizadores das redes sociais.

“A multidão pode ser uma melhor fonte de apoio financeiro do que as formas tradicionais”, dizem os investigadores, num estudo que ainda está em fase de elaboração sobre o nascimento e desenvolvimento deste fenómeno.

O que começou como uma forma de fotógrafos, realizadores de cinema, músicos e outros artistas angariarem capital para os seus trabalhos artísticos, depressa se estendeu a outros sectores. E “foram os utilizadores que criaram todo um novo sector que cada vez mais compete com os serviços financeiros e a banca”, notam.

Há três formatos de crowdfunding: apoio a projecto onde quem contribuiu recebe uma recompensa através de prémios (é o caso do PPL e do Massivemov); empréstimos de pessoas a pessoas, com um lucro financeiro predefinido (como a britânica Zopa) e, finalmente, investimento em troca de uma participação na empresa, lucros ou partilha de receitas.

Fonte: Público



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