Marketing: Bloqueio de vendas na Internet pode limitar concorrência

Março 6, 2011 by  
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LUXEMBURGO (Reuters) – Empresas que bloqueiam a venda de seus produtos na Internet podem estar quebrando regras da União Europeia, disse um conselheiro do maior tribunal europeu na quinta-feira, um ponto de vista que poderá reduzir o controle das grifes de luxo sobre sua imagem.

O impedimento das vendas online pode ser desproporcional e contra a concorrência, afirmou um advogado-geral do Tribunal de Justiça da União Europeia (ECJ) Jan Mazak.

Ele deu sua opinião sobre o caso da empresa francesa de cosméticos Pierre Fabre Dermo-Cosmetique (PFDC), dona das marcas Avene, Klorane, Galenic e Ducray, que obrigou distribuidores a venderem seus produtos apenas em lojas físicas.

Donas de marcas luxuosas argumentaram longamente que suas lojas físicas são necessários para proteger sua imagem e a exclusividade de seus produtos, mas varejistas online como o eBay afirmam que tais restrições são injustas.

“A recusa absoluta da Pierre Frabre em permitir a seus distribuidores franceses vender produtos na Internet parece desproporcional”, opinou Mazak.

O argumento da Pierre Fabre de que o bloqueio se justifica por razões de saúde pública “parece não ter fundamento”, já que os produtos não são medicinais, disse.

“O bloqueio absoluto das vendas na Internet, no contexto de uma rede de distribuição seletiva, que vai além do que é necessário para distribuir bens de uma maneira adequada, de acordo com a qualidade do material e sua imagem, tem o objetivo de restringir a concorrência”, afirmou Mazak.

Embora seja apenas uma opinião até o momento, Mazak manifestou seu ponto de vista diante dos juízes do tribunal, que seguem as recomendações de advogados-gerais em mais de 80 por cento dos casos.

Fonte: Yahoo Notícias

Inovação: Ousar ser diferente e melhor

Março 6, 2011 by  
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Inovar é simples ou difícil? É antecipar o que os outros podem vir a precisar antes mesmo de eles saberem ou é ousar apenas? A NS’ foi atrás de 12 exemplos de empresas que inovam em Portugal. Umas facturam milhões, como a Edigma com o seu Displax – a película que torna qualquer superfície interactiva ao toque – ou a InovNano que do seu berço no universo CUF dá ao mundo a possibilidade de usar nanomateriais pela primeira vez produzidos à escala industrial. Mas há as inovadoras que ainda estão a fazer o seu caminho rumo à glória, como a Tomorrow Options, que desenvolveu e comercializa uma palmilha que ajuda diabéticos; a IDMind, que cria robôs à medida; ou a 20/21, que inovou ao criar uma empresa que restaura arte… contemporânea. O trunfo de todas? Fazem o que nunca ninguém tinha feito!Por isso, dispensam-se comentários ou morais da história: são empresas e ideias como estas que fazem Portugal liderar o ranking dos países moderadamente inovadores (é 15.º no ranking geral a 27), e isso não é coisa pouca num país que até há pouco tempo só vendia «tradição».

MVP Consultores

Trabalhar e cuidar-se para produzir melhor

Para responderem à exigência dos seus cargos, os quadros das empresas precisam de uma preparação comparável à dos atletas de topo

NA MVP acredita-se que os colaboradores das empresas estão sujeitos a maior exigência física, emocional e intelectual do que os atletas de alto rendimento e por isso a pergunta: por que razão os quadros das empresas treinam e cuidam de si tão pouco? A empresa de consultoria em corporate wellness – um conceito de bem-estar corporativo muito comum nos Estados Unidos da América e no Norte e centro da Europa, mas que não existia em Portugal até ao lançamento da MVP Consultores – aposta em mudar isto.

Sediada no Porto, a MVP junta o professor José Soares (mestre em fisiologia do esforço, professor universitário e antigo fisiologista de clubes como o Boavista ou a selecção nacional de andebol) e Jorge Araújo, professor, treinador de basquetebol durante 38 anos em todos os escalões das selecções nacionais e no FC Porto, que fundou há mais de uma década a empresa Team Work, com a missão de ensinar aos quadros das empresas os referentes de sucesso que se aplicam ao desporto de alto rendimento.

Não admira por isso que as analogias continuem no mesmo quadro de referências, mas José Soares alarga a missão da sua MVP: «O que fazemos é construir programas de saúde, de bem-estar e de gestão de stress e energia para os colaboradores das empresas, de forma individualizada e utilizando alguns dos conceitos mais comuns no mundo desportivo.»

José Soares explica que não se trata apenas de aconselhar as empresas a distribuir fruta ao pequeno almoço, a obrigar os trabalhadores a sessões de alongamentos ou a andarem a pé durante meia hora por dia. «Os programas são vários, passam pela gestão do stress, com o ensino de técnicas de relaxamento no local de trabalho, até acções de prevenção de lesões músculo-esqueléticas, passando por técnicas de gestão de tempo, planos individualizados de educação alimentar e treino de rotinas proactivas», diz, lançando o mote da empresa: «Mais saudáveis, mais produtivos».

De forma ideal, o wellness corporativo trata essencialmente de combater os factores de risco que aumentam os gastos em saúde e o absentismo, mas também o presentismo, um novo conceito que se aplica aos casos em que o trabalhador está no seu posto de trabalho mas produz pouco dada a sua condição geral de saúde física, emocional e intelectual.

Algumas grandes empresas como a ANA Aeroportos, os bancos Popular e Santander ou a Partex já experimentaram os efeitos desta consultadoria e o registo é de grande satisfação. «O trabalho de equipa é importante, as metas são atingidas em conjunto, pela soma de todos os ganhos individuais. Na ANA, posso dizer que o conjunto dos colaboradores abrangidos no programa perderam um total de quinhentos quilos e deram o equivalente a duas voltas ao mundo», diz José Soares.

Além dos benefícios directos, faz notar, «as empresas colhem também os efeitos indirectos do estabelecimento destes programas na melhoria da imagem, já que pela primeira vez muitos trabalhadores percebem que “eles” se preocupam com o seu bem-estar como seres humanos».

Tudo o que a MVP advoga e pratica está demonstrado cientificamente, diz José Soares, desde os factores de risco no exercício das profissões aos impactes que a falta de saúde gera para a economia global das empresas e dos países. «O que constatamos é que muitos obstáculos que no desporto estão superados há anos ainda são um problema no mundo corporativo», reflecte. E dá um exemplo: «A taxa de lesões no ombro por sobressolicitação [em aparafusadores] era altíssima num dos nossos clientes e não se fazia nada para a baixar, quando os métodos de prevenção que se usam no desporto baniram esse problema há pelo menos uma década.»

A média de duração dos programas da MVP Consultores – MVP é a sigla utilizada no basquetebol da NBA para designar o jogador mais valioso (most valuable player) de um campeonato ou equipa – é de três a quatro meses, e as empresas passam por um processo de diagnóstico que aconselha depois as abordagens mais eficazes na busca das soluções. «Um dos factores de sucesso deste tipo de consultadoria é a interactividade e acompanhamento do andamento dos programas. Usamos as novas tecnologias para que todos sejam chamados a prestar provas e a partilhar dúvidas e resultados, sendo depois usadas técnicas de motivação que são muito importantes. Na ANA, por exemplo, todo o peso perdido pelos colaboradores que participaram dos programas foi convertido em dinheiro que foi doado a instituições externas.»

Pioneiros no wellness empresarial

A MVP Consultores foi a primeira empresa a introduzir e a promover wellness corporativo no nosso país. Tem um quadro fixo de consultores, que inclui cardiologistas, psicólogos, treinadores de atletas olímpicos ou nutricionistas, e parcerias específicas para responder a qualquer necessidade diagnosticada na empresa cliente.

Está presente na internet e na rede social Lindekin, mais vocacionada para o mundo empresarial. LEONOR MOREIRA

Edigma

O rato morreu

Empresa de Braga foi pioneira do ecrã táctil e soma prémios de inovação em Portugal e no estrangeiro.

Um ponto prévio para se admirar em toda a extensão o tamanho do feito inovador da Edigma é lembrar que em 2004 não havia telemóveis com touchscreen e os computadores multitouch ainda estavam a ser sonhados nos quartéis-generais da Microsoft ou da Apple. É que foi nesse ano que a Edigma apresentou o seu Displax, um ecrã táctil transparente, em que o utilizador usava a ponta dos dedos para abrir janelas e menus que só costumavam estar acessíveis com a movimentação de um rato ou accionando comandos num teclado.

Nascia o Displax da Edigma, nessa altura, e cresciam os sonhos e expectativas de Miguel Oliveira, CEO da empresa que há anos consecutivos ganha prémios de inovação em Portugal e no estrangeiro, o último, em 2010, com a superfície multitouch que apresentou em Casablanca, na operadora móvel Meditel.

As referências nos meios de comunicação especializados de todo o mundo exaltam invariavelmente as janelas de oportunidade que a nova tecnologia da Edigma abre aos utilizadores: com a invenção de uma película revolucionária que, aplicada a qualquer superfície, a transforma num monitor multitouch, permitindo interactividade com os conteúdos que qualquer um desejar. Ou seja, pode pegar na porta do frigorífico, aplicar-lhe a skin da Edigma e… ter acesso a receitas com os produtos que estão no interior; ou pode aplicar a pele numa parede de café e ler a ementa; ou colocar a película numa carteira de escola e deixar que, com a ponta dos dedos, de forma natural e intuitiva, as crianças aprendam.

«Antecipámos em cinquenta anos a tecnologia, o mercado percepcionou as possibilidades de aplicação e, de então para cá, empresas e instituições mostram-se muito receptivas», diz Miguel Oliveira, 36 anos, líder de uma empresa com cerca de meia centena de trabalhadores distribuídos por diversas áreas.

Nas instalações da novíssima sede da Edigma, em Adaúfe (Braga), a área de entrada mostra ao visitante exemplos de aplicação desta skin. Está lá o primeiro Displax, as telas expostas em algumas farmácias portuguesas com informações e publicidade, o monitor instalado no Museu da Evolução Humana, em Burgos, uma parede interactiva com conteúdos adaptados à Bolsa de Valores e a mesinha de escola com o Displax Creon, que a empresa está a negociar, via um parceiro local, com o Ministério da Educação holandês.

Mas se não conseguir imaginar bem o que é poder tocar em qualquer superfície e accionar conteúdos interactivos apenas com os dedos, é só assistir ao próximo Telejornal da RTP 1 e esperar pelo espaço da Meteorologia: aquela parede aparentemente nua que os sucessores de Anthímio de Azevedo tocam fazendo aparecer imagens de satélites e animações com temperaturas e estados do mar não é mais do que uma parede a que foi aplicada a película da Edigma, para ficar interactiva. Que é também usada na televisão espanhola.

«Ao longo destes anos, evoluímos para as superfícies de grande dimensão, até às cem polegadas (2,54 metros) e para a tecnologia multitouch», explica Miguel Oliveira, com a confiança de quem consegue responder a quaisquer necessidades dos clientes.

Até ao momento, museus e lojas são os principais clientes da Edigma – além do de Burgos, há ecrãs da Edigma no Museu de Tondela, no Eco-Museu do Barroso e na Fundação do Instituto das Comunicações, em Lisboa. Boa parte do piso do Mar Shopping, em Matosinhos, tem instalada a skin que faz que os clientes activem imagens e menus só de caminharem nos corredores, e isso é algo tão surpreendente quanto natural.

«Na exposição Universal de Saragoça e na de Xangai aconteceu uma coisa engraçada: havia pavilhões e espaços equipados com os nossos Displax e as pessoas eram convidadas a tocar e a interagir. Mas a maioria não era interactiva e, então, muitos expositores tinham de colocar avisos a dizer “por favor, não tocar”», conta Miguel, exemplificando a mudança de paradigma que o produto inovador da sua empresa está a provocar. «O rato morreu», diz, com graça.

Sempre a crescer

A Edigma facturou três milhões de euros em 2010, está presente em trinta mercados e continua em expansão, desenvolvendo novos produtos e aplicações, com um leque amplo já dedicado a lojas e espaços comerciais, mas continua a inovar. Um dos projectos em estudo pode definir-se como um chão interactivo que ajuda a recuperação fisioterápica de pessoas traumatizadas ou limitadas na marcha. L.M.

Tomorrow Options

Novas tecnologias ao serviço da saúde

Um dispositivo electrónico preso ao pé ou à perna para identificar problemas ortopédicos ou do coração.

E se um pequeno aparelho ligado à palmilha do seu sapato ou a uma meia conseguisse monitorizar o seu estado de saúde? Foi isso, justamente, que a Tomorrow Options inventou: o WalkinSense monitoriza os movimentos dos membros inferiores e pode ter aplicações a nível da ortopedia, da neurologia, cardiologia e podologia. De resto, o produto já provou ser bastante eficaz no combate às patologias do chamado pé diabético. Tudo sem ser necessário fazer um batalhão de exames. Tudo com um pequeno aparelho ligado ao sapato e preso na perna. Já lá vamos.

Paulo Ferreira dos Santos, 46 anos, director-geral da Tomorrow Options, explica que a empresa nasceu a partir do seu Mestrado em Inovação e Empreendedorismo Tecnológico (MIET), da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. «Na altura em que me candidatei a este mestrado já fazia gestão de empresas há muito tempo. Tenho o curso de Informática de Gestão mas queria um novo desafio na minha vida. E este mestrado permitia que os alunos pegassem em tecnologias que estavam a ser criadas na universidade do Porto para as desenvolver e comercializar.»

E assim, no final do mestrado, Paulo, Catarina Monteiro (uma colega do MIET) e mais dois professores e investigadores da Universidade do Porto (que tinham criado a tecnologia que monitorizava a mobilidade das pessoas) decidiram criar a Tomorrow Options que, pelo menos para já, se dedica em exclusivo ao WalkinSense: «Este produto pode desempenhar um papel fundamental nas áreas da teleassistência e telessaúde, sobretudo porque os hospitais, clínicas e centros de saúde têm de prestar serviços a um número crescente de pacientes respeitando os orçamentos, que são limitados.»

Felizmente, Paulo Ferreira dos Santos e os outros sócios conseguiram encontrar um investidor que compreendeu a mais-valia do aparelho e também a importância de voltar o negócio para o exterior e não para Portugal: «O mercado-alvo do WalkinSense são os hospitais e os centros de saúde. E em Portugal o prazo médio de pagamento de um hospital aos seus fornecedores é de trezentos e tal dias. Não é viável. Já vendemos algumas unidades e podíamos ter mais interessados se fizéssemos o esforço de vender aqui, mas não fazemos, porque é inglório.» A Tomorrow Options tem nome inglês e é no Reino Unido que tem o seu mercado.

«Tivemos um apoio enorme da UK Trade and Investment (UKTI), que corresponde à nossa Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), embora estejamos a anos-luz daquela. A UKTI é, de longe, a melhor organização pública com que lidei em toda a minha vida. Só faz duas coisas: procurar exportar os produtos britânicos e captar investimento para o Reino Unido. O que senti foi que tratam da mesma maneira quem vai investir cem mil libras ou cem milhões. Ajudaram-nos em tudo: a identificar o melhor local para nos estabelecermos, a pôr-nos em contacto com as autoridades locais e a escolher o contabilista, o advogado… tudo!»

Além disso, ter a chancela da UKTI ajuda a vencer a barreira da credibilidade. «Tê-los a dizer que somos uma empresa credível abre portas a todos os níveis. Em Portugal? Posso dizer-lhe que tentei várias vezes contactar a AICEP e nunca passei da telefonista.»

Ainda assim, e mesmo com a ajuda preciosa daquele organismo do Estado inglês, Paulo Ferreira dos Santos e os outros sócios só começaram a comercializar o WalkinSense no ano passado. Algo que não assusta o director-geral: «Nós, portugueses, somos muito imediatistas. Não pode ser. Empresas como esta dão retorno a cinco, sete anos. Nós estamos a tentar obter a quatro. Nos primeiros tempos estivemos a evangelizar. Agora estamos a colher os frutos. A visibilidade e a criatividade levam tempo a construir. Mas estamos a crescer. Neste momento já empregamos, em Portugal e no Reino Unido, 17 pessoas, de sete nacionalidades diferentes.»

Este ano, a Tomorrow Options vai lançar um segundo produto. Desta vez será um dispositivo para evitar úlceras em acamados. E além deste tem já na calha um outro: o primeiro sistema de auto-reabilitação para pessoas que sofreram acidentes vasculares. Porque as ideias não param. Porque os investigadores querem chegar mais longe. Porque a saúde pode ganhar muito com as novas tecnologias.

Para que serve o WalkinSense

«Ter um dispositivo electrónico que o paciente leva consigo, sem incomodar, e que fornece dados precisos é algo revolucionário. Os pacientes com o chamado pé diabético, por exemplo, começam a colocar mal o pé ao caminharem. Este aparelho mede a pressão que o pé faz ao andar, percebendo-se assim se existem problemas, o que permite que se corrijam de imediato», explica Paulo Ferreira dos Santos. SÓNIA MORAIS SANTOS

Waydip

A electricidade que vem do chão

Um projecto que gera energia eléctrica a partir do movimento de pessoas ou carros sobre uma superfície.

Francisco Duarte, 26 anos, e Filipe Casimiro, 25, estavam a tirar o mestrado em Engenharia Electromecânica da Universidade da Beira Interior (UBI) quando criaram o projecto Waynergy, um sistema inovador que se aplica no pavimento e permite gerar energia eléctrica a partir do movimento de pessoas e veículos sobre a sua superfície. Pode ser aplicado em zonas de grande circulação de pessoas ou veículos como centros comerciais, estações de transportes públicos ou até na própria estrada. Sempre que uma pessoa ou veículo se movimentar na sua superfície liberta energia cinética, o sistema capta essa energia e transforma-a em energia eléctrica. Essa energia pode alimentar dispositivos eléctricos como iluminação, sinalização, entre outros, tornando assim estas aplicações sustentáveis, não necessitando da energia eléctrica da rede que, como se sabe, provém maioritariamente de combustíveis fósseis.

Esperto, não? E inventado, em 2008/2009, por dois jovens portugueses, com o apoio científico de alguns professores do departamento de Engenharia Electromecânica da UBI.

Da ideia à concretização, ou seja, da teoria à prática demorou cerca de quatro meses. «Depois de fazermos o primeiro protótipo, o projecto passou por várias fases de optimização e nova prototipagem, com vista à garantia dos melhores resultados laboratoriais com os protótipos desenvolvidos», explica Francisco Duarte. «Cerca de um ano depois, e três protótipos desenvolvidos com diferentes tecnologias e funcionamentos, alcançámos os objectivos a que nos propusemos e confirmámos que a ideia e a tecnologia estavam dentro do pretendido.» A felicidade desse momento é difícil de descrever. A nota do projecto de mestrado é mais palpável: Francisco teve 18 valores, Filipe 17.

Cientes de que tinham um projecto especial em mãos, Francisco e Filipe decidiram concorrer ao prémio ISCTE-IUL MIT Portugal Venture Competition. Para quem não sabe, o MIT é o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA, com uma reputação imbatível. «Foi, sem dúvida, o concurso mais exigente em termos de trabalho e aprendizagem por que passámos, uma vez que teve fases intermédias com formação em sala e desenvolvimento de plano de negócios com o acompanhamento dos professores do ISCTE. Ao longo do concurso tivemos apoio por parte de docentes da UBI (na área de Gestão e Marketing) bem como do GAAPI (Gabinete de Apoio a Projectos e Promoção da Investigação) da UBI.»

Durante mais de um mês, Francisco e Filipe trabalharam todos os fins-de-semana, das nove da manhã à meia-noite. E as cinco noites antes do evento foram passadas em claro. Os dois jovens foram finalistas e… acabaram por ganhar o primeiro prémio na área de Sistemas Sustentáveis de Energia e Transporte. «Nessa fase final, em que havia cinco finalistas por área e todos com grande potencial para ganhar, houve muitos nervos. Sabíamos que do resultado do concurso dependia a possibilidade de adquirir as condições financeiras para levar o projecto para a frente. Felizmente ficámos em primeiro lugar e obtivemos não só a chancela do MIT como ainda ganhámos cem mil euros.»

Além desse concurso, os dois investigadores ganharam também cinquenta mil euros do prémio Inovação EDP Richard Branson e, com essa verba, criaram a empresa Waydip e estão a desenvolver o projecto Waynergy. «O suporte financeiro permite-nos desenvolver os protótipos à escala real, para que possamos aplicá-los nos vários locais que pretendemos, bem como fazer o pedido internacional da patente do sistema. Sem dúvida que foi graças ao dinheiro que ganhámos nos concursos que temos a possibilidade de desenvolver o projecto de acordo com o plano definido para o mesmo. E com os prémios ganhámos também o apoio de empresas como a EDP (inovação), do ISCTE (Audax) e MIT, que têm acompanhado e apoiado o desenvolvimento deste projecto com muito empenho, o que nos dá ainda mais motivação e confiança para o seu desenvolvimento.»

Da universidade à empresa

Os cem mil euros do prémio ISCTE-IUL MIT Portugal Venture Competition e os cinquenta mil do Inovação EDP Richard Branson permitiram a Francisco Duarte e a Filipe Casimiro fundar a Waydip para concretizar o Waynergy. Já existem empresas interessadas neste projecto sustentável, mas Francisco e Filipe preferem, para já, não divulgar nomes. Afinal, já aprenderam que o segredo é a alma do negócio. «Mas podemos dizer que são empresas ligadas às estradas, construção, energias renováveis e eficiência energética.» S.M.S.

IDMind

Olha o robô!

A criação de máquinas que saem da rotina vai englobar os campos educacional, publicitário e cultural.

Desenvolver algo que ainda não existe em termos de oferta é a definição simples que Paulo Alvito propõe para a ideia de inovação. O engenheiro electrotécnico e sócio-gerente da empresa IDMind, a única que em Portugal concebe e constrói robôs, reconhece que esta é uma área em que há sempre coisas novas a inventar.

A IDMind foi fundada no ano 2000. A equipa é de apenas cinco pessoas, e são elas que até agora têm executado a assemblage integral de todos os robôs que também conceberam, num volume de negócios que em 2009 rondou os 260 mil euros e no ano passado baixou para 165 mil. Desde que iniciou a sua actividade, a empresa tem apostado na comercialização da sua própria tecnologia. Todos os produtos ou serviços comercializados são desenvolvidos pela IDMind num contexto de integração, em que o know-how adquirido ao longo do tempo suporta novos desenvolvimentos.

Os robôs-guia usados no centro de visitas da cidade financeira do Grupo Santander, em Boadilla del Monte, a 18 quilómetros de Madrid, são uma das criações que Paulo Alvito considera mais emblemáticas da actividade da sua empresa. De facto, chegar a um lugar e poder ser conduzido a uma sala de reuniões por um robô não é coisa que aconteça todos os dias; mas, no centro de visitas de Boadilla, os cinco pequenos robôs vermelhos são uma óbvia atracção.

«Conheço muita coisa em termos de robótica e as soluções industriais funcionam sempre porque existem linhas, ou cabos, que os robôs seguem e não há interacções com pessoas nem os chamados imponderáveis», observa Paulo Alvito. Ora, imponderáveis não faltam aos robôs-guia quando algumas pessoas, por graça, tentam propositadamente confundi-los. Se lhes barram o caminho mais directo, escolhem outro.

Na fase inicial, a IDMind apostou na comercialização de kits robóticos destinados a fins educacionais. Aos estudantes era proposta a montagem de um robô, com base nos componentes incluídos em cada kit e num conjunto de instruções, que depois deveriam programar para desempenhar tarefas simples. «A ideia era motivar os alunos para a tecnologia, e um robô é óptimo para isso porque mexe», diz Paulo Alvito.

A esse primeiro passo seguiu-se a pergunta: «E agora, vamos limitar-nos a isto?» Paulo Alvito responde que não, que a sua ideia foi sempre continuar a investigar e a fazer coisas mais complexas. Assim surgiu o projecto Raposa (ver caixa) e uma série de outras máquinas que têm potenciado a intervenção em áreas como as da arte/cultura ou do marketing/publicidade. No primeiro caso, destacam-se os vários robôs criados para o artista plástico português Leonel Moura, de que é exemplo o robô-pintor RAP – Robotic Action Painter, instalado no Museu de História Natural em Nova Iorque desde 2006, ou um conjunto de robôs capazes de contracenar com actores de carne e osso.

Um campo em que a IDMind não descarta investir é o dos robôs-assistentes, máquinas que possam interagir e «acompanhar» pessoas com necessidades especiais, como os idosos, mas não só. «Este é um campo que envolve dimensões éticas, porque um robô que “vive” com uma pessoa e com o qual se pode estabelecer um laço levanta outro tipo de questões», observa Paulo Alvito. Por essa razão, lembra, cada vez mais pessoas vindas de áreas como a filosofia, a psicologia ou a sociologia integram equipas de investigação de robótica. Porque a intromissão de máquinas no espaço humano «pode ter efeitos perversos».

O socorro do Raposa

Chama-se Raposa o robô teleoperado que parece um minitanque de guerra mas foi concebido para actuar pacificamente em ambientes hostis ou de difícil acesso a humanos, como escombros resultantes de um terramoto ou desmoronamento.

Concebido para operações de busca de eventuais sobreviventes, o Raposa pode ser equipado com sensores específicos cuja informação é transmitida ao operador remoto situado num posto de comando em local seguro, proporcionando informação relevante sobre o seu meio envolvente (estado do terreno, temperatura, presença de gases nocivos, água ou fontes de calor provenientes, ou não, de vítimas humanas).

O projecto foi realizado no âmbito de um consórcio que contou com a participação do Instituto Superior Técnico e do Regimento de Sapadores de Bombeiros de Lisboa. Concluído em 2005, mostrou o que vale no exercício internacional EuroSot (simulacro de um sismo para equipas de salvamento, realizado na Sicília, Itália) e na prova urbana ELROB 2006, um evento promovido pelo exército alemão que juntou diferentes entidades europeias. Foi um dos quatro finalistas para o prémio de transferência de tecnologia Euron 2006 Technology Transfer Award. Até agora, só foi vendido um exemplar, para Sharjah, um dos Emirados Árabes Unidos. J.A.S.

ÍNDIGO

O som é o limite

A produção de conteúdos próprios e o desenho de «arquitecturas sonoras» são apostas desta empresa.

Uma «catedral do som» e não apenas um mero prestador de serviços. Foi essa a aposta de raiz da Índigo, produtora de som criada em 1996 que tem nas sound experiences, histórias contadas só com sons, o exemplo mais radical na produção de conteúdos próprios.

Manuel Faria, músico (foi o teclista de O Trovante) e director-geral da empresa, acredita que o mundo do som tende a ficar dividido entre aqueles que apenas prestam serviços e os que criam conteúdos. Na produção de som, explica, a tendência é a divisão em duas realidades: de um lado os estúdios de onde sai um trabalho pouco exigente e do outro as produtoras inovadoras e criativas com conteúdos próprios. Sem pretender abdicar da prestação de serviços, para a qual a empresa está devidamente equipada com estúdios de gravação e de misturas, Manuel Faria reafirma que a Índigo pretende um lugar o mais próximo possível dos criadores.

Em 2009, quando estreou o filme Avatar, os espectadores foram surpreendidos por um formato publicitário inovador para a Vodafone, que foi o uso dado às sound experiences (ver caixa) surgidas apenas pela vontade de experimentar. Eram histórias-situação contadas apenas com sons, cujos contornos precisos ficavam à mercê da imaginação do ouvinte, e muito mais radicais do que o desaparecido teatro radiofónico, em que havia texto e uma história clara.

A chamada «arquitectura sonora» é outra das actividades da Índigo. Mas que será tal coisa? «Trata-se de pegar num espaço e criar um som envolvente», explica Manuel Faria. Algo confundível com a música ambiente que polui tantos espaços públicos? A ideia não é de todo essa. Manuel Faria dá o exemplo do Museu de Tecnologia de Bilbau, para o qual criou uma envolvente sonora. «No museu havia várias salas e cada uma delas tinha vários equipamentos que produziam ruído e tudo aquilo junto parecia uma casa de flippers, um pouco desagradável. O que criámos foi uma cúpula sonora que envolvesse e desse sentido ao conjunto, mas à qual não fosse necessário prestar atenção.» Naquele caso concreto, a «arquitectura sonora» ali aplicada pretendia amenizar o ruído produzido pelas peças em exposição. «O som ajuda as pessoas a integrarem-se nos espaços e nas experiências e cria algum conforto», justifica.

A Índigo tem sido responsável pela criação da identidade sonora de várias marcas. Em 2008 começou também a trabalhar na área das grandes produções de cinema. Nos seus estúdios já foram sonorizadas quatro longas-metragens (de Leonel Vieira, Walter Carvalho, Fernando Lopes e Carlos Coelho da Silva) e duas curtas (de João Nuno Pinto e Rita Nunes). Além de técnicos, a empresa conta também com músicos entre os seus 18 funcionários.

Histórias em aberto

«Todos os animais têm o seu instinto de sobrevivência mais ligado ao ouvido do que à vista», diz Manuel Faria. A base das sound experiences consiste em procurar na memória de cada um imagens «adequadas» aos sons de cada história. Uma dessas experiências, que em 2009 acompanhou o filme Avatar, chamava-se O Avião. Antes da exibição do filme, passava uma mensagem que pedia aos espectadores para fecharem os olhos. E começava então a ser contada uma história apenas com sons. «Estamos» no interior de um avião e em breve ouvem-se gritos. O avião despenha-se e cai no mar. O «protagonista» ora está acima ora abaixo do nível da água. Depois torna-se claro que conseguiu libertar-se e nadar até terra (uma ilha?), onde se ouvem sons de animais e depois as vozes de uma tribo e dos seus rituais. Será uma saudação ou um sacrifício? O «filme» termina com uma voz que diz: «João, acorda. Estás atrasado para apanhar o avião.» J.A.S.

INOVNANO

Coisas enormes em tamanho mínimo

O mundo maravilhoso dos nanomateriais.

Se um dia lhe disserem que há uma tinta que, aplicada na fachada de um edifício, vai purificar o ar saturado pelo tráfego intenso de veículos das redondezas, acredite e agradeça ao Sol e à InovNano, a empresa portuguesa que produz nanomateriais e descobriu um método de produzir nanopós em quantidades industriais, algo que até agora nunca fora alcançado.

«Há muita gente a produzir nanomateriais, mas em quantidades ínfimas que são praticamente absorvidas pela investigação. Na InovNano, um processo intenso de investigação e desenvolvimento levou à criação de um método capaz de continuadamente produzir nanomateriais às toneladas, com grande fiabilidade e qualidade, com estabilidade de características entre os lotes e que, por isso, possibilita à indústria aplicações múltiplas que até agora não eram alcançáveis», explica André de Albuquerque, CEO desta empresa do grupo CUF.

Uma das aplicações é a tal tinta com nanopartículas incorporadas capazes de, ao serem activadas pela luz do Sol, melhorar a qualidade do ar envolvente. «No fundo, os nanomateriais fazem isso, conferem à superfície ou objecto em que são aplicados características que não seriam possíveis de obter com outra dimensão dos materiais», sintetiza Albuquerque, explicando que, pela natureza da sua actividade, a empresa está posicionada no mercado global a ponto de o sector comercial estar sediado em Bruxelas.

A InovNano tem uma base de investigação no Sul, mas em breve vai mudar toda a capacidade para instalações criadas de raiz em Coimbra, transferindo laboratórios, investigadores e a fábrica, numa planta pensada para optimizar todo o processo e aumentar ainda mais a capacidade de resposta.

Com o desenvolvimento inovador liderado pela InovNano multiplicam-se as solicitações de aplicações. Baterias de lítio, componentes de painéis fotovoltaicos, estruturas cerâmicas no caso dos nanopós, ou aplicação em tintas e vernizes, no caso das suspensões, estão entre algumas das mais comuns.

O mercado em que a empresa portuguesa se movimenta regista um crescimento de trinta por cento ao ano até 2015 e representa, hoje, uma fatia de dois mil milhões de dólares. Os EUA e alguns países europeus são players bastante fortes, mas a InovNano apresenta-se no mercado global com a fortíssima vantagem de entregar em quantidade e bom.

«Não basta apurarmos o processo industrial, que é o que as novas instalações de Coimbra vão permitir à empresa», diz Albuquerque, «por isso mantemos e ampliamos a investigação, as parcerias com o meio académico em Portugal e no mundo, para podermos antecipar necessidades, apurar soluções ou dar respostas ao que já existe mas pode ser optimizado», afirma, sem especificar o tamanho da fatia que a InovNano quer abocanhar desse enorme bolo global.

Na InovNano trabalham vinte pessoas, quase todas ligadas à investigação e ao desenvolvimento de mais materiais e novos processos. Um dos projectos mais acarinhados é a possibilidade de aplicação dos nanomateriais em tratamentos oncológicos. Uma das vantagens do processo da InovNano é que pode produzir uma única partícula, totalmente diferenciada e uniformemente distribuída. «Isto é muito importante, por exemplo, na área da saúde, pois permite criar um agente de transporte para um corpo magnético que o liberta para actuar apenas e só nas células cancerosas, diminuindo muito a agressividade dos tratamentos que hoje estão disponíveis», diz André de Albuquerque

Produzir nano em quantidades industriais

Empresa do universo CUF, emprega cerca de vinte pessoas nos sectores de investigação, produção e comercial, já que todas as outras áreas de funcionamento, do departamento jurídico aos recursos humanos ou financeiros, estão centralizadas na casa-mãe. A inovação da empresa surge da descoberta de um processo que permite produzir nanomateriais em quantidades industriais, o que até agora não era possível. L.M.

OON

Poupar a natureza

Transformar óleos alimentares usados em velas é a aposta da primeira empresa que se dedica a encontrar soluções de reciclagem doméstica.

Os óleos alimentares usados vão para o esgoto? E que tal poupar o ambiente e transformar esses poluentes em velas decorativas? A ideia, autêntico dois-em-um, surgiu a Mário Silva e concretizou-se com a concepção do Candlemaker, um electrodoméstico que parece uma máquina de tirar café. Estava assim lançada a Oon, empresa nascida em 2008 que se dedica a desenvolver soluções de reciclagem em ambiente doméstico.

Fazer que as pessoas tenham a possibilidade de ser intérpretes do processo de reciclagem em vez de delegarem essa tarefa a terceiros, colhendo o valor emocional e financeiro deste gesto, é a aposta, explica Mário Silva. «Na prática, é uma forma de empowerment que altera o paradigma da reciclagem actual, de algo feito por terceiros, à distância, com dispêndio de recursos, para algo concretizado por todos nós de uma forma muito mais eficiente», diz.

O primeiro protótipo da «máquina das velas» surgiu no segundo semestre de 2007 e o produto final foi colocado à venda em final de Maio passado. Já chegou a alguns países europeus, como Itália, França ou Dinamarca. «O mercado reagiu bem ao produto», diz o CEO da Oon, embora ressalvando que, «como em todos os negócios», a crise está aí.

Uma empresa é uma empresa, mas nem todas seguem o mesmo caminho. «Trabalhamos no domínio da sustentabilidade.» A Oon defende três vectores fundamentais: económico-financeiro, ambiental e social. É por esse motivo que trabalha com escolas e municípios, com o objectivo de alterar e modificar comportamentos nos segmentos mais jovens da população, tipicamente mais sensíveis às questões de natureza ambiental.

Ao avançar na ideia de lançar um electrodoméstico capaz de transformar os óleos usados em algo útil, Mário Silva baseou-se em duas premissas: que o mercado de óleos usados é enorme mas sem grande valorização, e que o das velas também não é pequeno mas é pouco diferenciado.

Surgida a ideia e feita a necessária pesquisa, Mário Silva ficou a saber que ainda ninguém se lembrara de transformar os óleos usados em velas. «Senti que seria uma óptima materialização da visão estratégica da empresa e, quando percebi que ainda não tinha sido posta em prática, pareceu-me que poderia ser uma boa oportunidade de negócio, apesar do carácter disruptivo da ideia.»

Pensar globalmente na resolução de problemas globais, contextualizando-os numa dimensão local, resulta numa abordagem que a Oon classifica de glocal. Os óleos alimentares foram o ponto de partida, mas há outros desperdícios domésticos susceptíveis de tratamento na casa de cada um. Novas ideias estão em fase de desenvolvimento, mas ainda são «segredo». O investimento de arranque foi de três milhões de euros e a empresa emprega dez trabalhadores.

Velas amigas do ambiente

A «alquimia» de transformar óleos usados em velas, tão fácil como tirar um café, é possibilitada pelas pastilhas/consumíveis (candlepods), cuja fórmula química neutraliza o cheiro da matéria-prima e dá cor e aroma (violeta, jasmim, musk…) ao que era um desperdício. São feitas com ingredientes ecológicos, sem prejudicar o meio ambiente e sem risco para a saúde pública, como garantem vários testes laboratoriais. O Candlemaker recicla então óleos e azeite usados mas é também o electrodoméstico que a nível mundial é fabricado com uma maior percentagem de plástico reciclado, 79 por cento. Quanto ao consumo energético, fica-se pelos 9,4 Wh, o equivalente a uma lâmpada de baixo consumo. J.A.S.

PLUX

Os sinais do corpo

Biossensores permitem avaliar a actividade muscular, o ritmo cardíaco ou os níveis de stress.

Reduzir equipamentos grandes e pesados, tendencialmente inamovíveis, a pequenos objectos que cabem na palma da mão é o resultado mais visível do que os biossensores criados pela Plux trazem ao trabalho clínico e à investigação. Com eles, a medição da actividade dos músculos, do cérebro ou do coração, entre muitas outras aplicações, conhece um novo patamar de facilidade.

Hugo Gamboa, director-geral e um dos quatro fundadores da única empresa portuguesa de engenharia de biossensores, criada em 2007, é claro: «No nosso contexto, inovação é garantir que com um conjunto forte de conhecimentos conseguimos criar realidades concretas para o mercado.» Admite que pode haver inovação sem aplicabilidade prática, mas esse não é de todo o seu propósito. A Plux decidiu apostar na criação de ferramentas miniaturizadas de apoio ao trabalho clínico, um nicho de mercado em expansão.

Uma das mais recentes criações da empresa chama-se Bioplux Clinical. É um dispositivo médico para fisioterapia e reabilitação física que permite aos fisioterapeutas definir os tratamentos mais adequados e aos pacientes executá-los o mais correctamente possível. A sua portabilidade impõe-se: o kit, mais pequeno e leve do que as malas usadas diariamente por muitas mulheres, inclui um pequeno computador, uma série de biossensores sem fios com diversas aplicações e um aparelho mais pequeno do que um baralho de cartas que envia os dados para o computador.

Baseado em biofeedback, o Bioplux Clinical tem como objectivo a modernização da prática clínica, a redução dos tempos de recuperação e os consequentes encargos. O hardware, baseado em tecnologia de ponta totalmente desenvolvida pela empresa, é o mais compacto da sua classe no mercado global. Já o software tem ecrãs intuitivos, com gráficos animados que facilitam a terapeutas e a utentes a comunicação e consequente execução dos exercícios associados ao processo de recuperação. No mercado interno, entre os clientes mais importantes deste equipamento contam-se o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão ou o Hospital de Santa Maria.

«O mais fácil para nós é dar uma resposta tecnológica», diz Hugo Gamboa, doutorado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores. Por isso, os projectos que vão desenvolvendo nascem sempre do contacto com pessoas de fora da empresa, que despertam para necessidades concretas que até poderiam passar ao lado dos experts em electrónica e computação.

Aplicáveis em cuidados de saúde concretos ou na monitorização da performance de atletas, os biossensores já desenvolvidos pela Plux são também aplicáveis na investigação. E já estão, aliás, a ser usados na Suécia, no Swedish Institute of Computer Science, para estudar o corpo, a mente e informação de contexto com o objectivo de melhorar o autoconhecimeto e a gestão do stress; na Grécia, na Universidade Aristóteles de Tessalónica, no estudo da linguagem gestual; e em Inglaterra, no Queens Medical Center, no estudo dos tremores típicos da doença de Parkinson. Por cá, a Escola Superior de Saúde de Setúbal utiliza-os para estudar as disfunções musculares do ombro.

A produção da Plux é garantida actualmente por 14 trabalhadores. Com a tendência de crescimento do mercado, está a ser estudada uma parceria com uma empresa nacional.

Apoio a idosos

A aplicação da tecnologia dos biossensores sem fios em lares da terceira idade para vigilância constante do estado de saúde dos idosos (Ambient Assisted Living) é um projecto em que a empresa actualmente trabalha.

A primeira versão do protótipo desta nova aposta era uma espécie de colar que ficava visível e que não agradou a potenciais utilizadores. Hugo Gamboa diz que a segunda, que ficará oculta sob a roupa, já está muito próxima do que será o modelo final.

O equipamento permitirá monitorizar um vasto conjunto de realidades fisiológicas relevantes para o acompanhamento do dia-a -dia de quem tem maior ou menor grau de dependência, como o ritmo cardíaco e respiratório, a temperatura do corpo ou o equilíbrio. J.A.S.

SEED STUDIOS

PS3 ao preço da chuva

A primeira empresa portuguesa a produzir um jogo para a consola da Sony.

A facturação do último ano é a conta mais fácil de fazer, mas quando este mês de Fevereiro chegou ao fim, o zero redondo que seguiu para a contabilidade da Seed Studios, no Porto, começou a transformar-se num retorno capaz de cobrir o investimento de 1,2 milhões de euros em dois anos e meio, pagar as contas, os juros e partir para outra. A Seed Studios, prémio inovação da Zon em 2010, é a primeira empresa portuguesa a produzir um jogo para PlayStation 3, Under Siege, na qual seis sócios e 15 pessoas investiram os últimos trinta meses das suas vidas.

Dinheiro do QREN (trezentos mil euros), capitais próprios, financiamento bancário, e uma experiência acumulada com o desenvolvimento de jogos mais simples para outras plataformas, como Toy Shop e o Sudoku for Kids, para a Nintendo e para os PC, equiparam a Seed Studios com a ambição de ir mais longe e transformar-se na primeira empresa portuguesa a fazer um jogo para a PS3, um universo que em Portugal chega às 330 mil consolas e no mundo soma um número astronómico de consumidores.

Este tabuleiro global faz com que criar um jogo para a PS3 seja um bicho de pelo menos sete cabeças, que inclui os desafios de programação e grafismo em si, o licenciamento, a tradução (no caso do jogo Under Siege para seis línguas e mais algumas a caminho), a banda sonora com 32 faixas, a obtenção de classificação etária ou acompanhamento parental, bem como o fino processo de controlo de qualidade exercido pela Sony, que actua no início do projecto, a meio e no final.

Filipe Pina, o sócio dedicado à produção, explica que hoje até já há uma empresa em Lisboa a desenvolver um jogo para PS3, mas que ainda assim a Seed inova ao «conduzir todo o processo de criação» e ao optar pela venda em loja virtual. «No final da linha, eliminamos também os intermediários que fazem que editar um jogo possa ser uma experiência muito penosa: ao vendermos directamente nas lojas virtuais, eliminámos a caixa do jogo, o fabricante da caixa, o transportador, o rótulo, o distribuidor, a loja, enfim, uma cadeia imensa de etapas que encarecem o produto final e deixam os criadores dos jogos com uma pequena comissão de dez por cento.»

Lucrará a Seed Studios e o consumidor final, que terá um jogo de altíssima qualidade (atestada por inúmeras críticas especializadas altamente favoráveis) a um preço a rondar os 16 euros, quando o jogo em caixa poderia chegar aos sessenta euros. «E ainda assim dá-nos mais margem do que o método tradicional», diz Filipe Pina.

Estes factores todos, que não são poucos, fazem da Seed Studios uma empresa inovadora, depois de quatro anos em que realizaram jogos como Toy Shop ou Sudoku for Kids, sucessos em pequena escala que fizeram a equipa ganhar músculo e ambição.

Mário Alcântara, o sócio dedicado ao marketing no projecto, explica: «A indústria dos games é maior do que a da música e do cinema juntas: vale duzentos mil milhões de euros actualmente. Este é um mercado enorme e a Seed Studios quer estar lá.» Estar lá significa dominar os circuitos, entender os mistérios do negócio, como por exemplo o pormenor de que no mercado japonês é preciso ter cuidado com o número de dedos que se tem em cada mão. «A Disney paga uma licença especial para poder ter lá o Mickey com a sua luva de quatro dedos, mas nós vamos mesmo redesenhar algumas personagens para evitar essa despesa», diz Mário Alcântara.

Da Sony chegam todos os dias indicadores de que os produtores deste jogo de estratégia com 21 níveis e possibilidade de os jogadores estabeleceram os seus próprios níveis têm todo o direito de sonhar com o sucesso e o retorno financeiro da sua aposta de carreira. «Em três horas, o jogo, que ainda nem foi oficialmente lançado, teve oitenta avatares baixados e já é possível saber que a arqueira heroína da história é a mais procurada», conta Alcântara. L.M.

VISIONWARE

Um CSI dos computadores exclusivamente português

Na primeira linha da segurança informática e do combate ao ciberterrorismo.

Quando um ministro ou presidente de banco central aperta a mão a Bruno Castro, desconhece o dilema de carreira que se atravessou na consciência deste consultor por volta dos 14 ou 15 anos: nessa altura, a tratar por tu computadores e programas informáticos desde pequenino, Bruno Castro soube que iria ganhar muito dinheiro com bits e bytes. A questão era saber se a roubar… ou a impedir que se roubassem empresas e instituições em todo o mundo.

Para bem de muitas empresas e departamentos de governo e polícias de investigação criminal em vários países, montou com um grupo de amigos a VisionWare, uma empresa que certifica sistemas de segurança informática para a União Europeia, testa esses sistemas contra ameaças externas e – eis o factor inovação – desenvolve trabalho forense e de investigação para apanhar os maus da fita.

Boa parte da actividade da VisionWare e dos seus funcionários parece saída de um filme: quando se desloca a um país do Médio Oriente para testar a segurança de um sistema de distribuição de energia ou a Cabo Verde para descobrir de onde e de quem partiu um ataque à informação financeira de uma empresa, o secretismo, a segurança pessoal e a tensão extrema passam a rotina e os consultores da VisionWare precisam de ter nervos de aço. «Pela natureza da nossa actividade, o nosso trabalho é confidencial, mas posso revelar que trabalhamos com departamentos de defesa em Portugal, o banco central de Cabo Verde, empresas de diversos perfis em Angola e na Argélia, com polícias judiciárias e tribunais, com a Procuradoria-Geral da República, com agências espaciais, com a Comissão Europeia…», enumera Bruno Castro, lembrando que a VisionWare é uma empresa certificada pelo Gabinete Nacional de Segurança e monitorizada pelo SIS, pelo que não pode propriamente distribuir e pedir cartões-de-visita por aí.

«Trabalhamos a vertente compliance, isto é, da certificação de segurança aos sistemas informáticos, sem a qual as instituições não poderiam operar no mercado, e somos especialistas em intrusão, com monitorização e teste constante dos sistemas, criação de armadilhas em face de ataques e ameaças, inovando ainda num serviço que é o da investigação dos crimes e colaboração com as autoridades na descoberta dos criminosos.»

Se houvesse um CSI para computadores, Bruno Castro seria uma espécie de Grissom ou Horatio, mas quando se lhe pergunta qual o papel que melhor lhe assenta, o de informático ou o de gestor, realça: «Acho que me vou ver sempre como um consultor. Vou ao cinema e fico a ver onde estão as falhas de segurança, vou ao restaurante e detecto falhas de segurança», ri, demonstrando o grau de comprometimento que faz da sua VisionWare, ao fim de seis anos, uma PME líder no seu segmento e, mais do que isso, um caso sério de sucesso.

A facturação em 2010 rondou os 2,5 milhões de euros e tudo isso passa pela grande capacidade de trabalho de um grupo de pessoas com estatura ética impenetrável, grande capacidade de trabalho e o requisito máximo que acaba por deixar de fora muitos candidatos à VisionWare: «O consultor tem de saber tudo, mas tudo, de bits e bytes, e também a forma de explicar tudo isso sem usar uma única vez um bit ou um byte. Quem nos procura são os gestores de topo das empresas, decisores últimos nas instituições, e esses não querem saber de zeros e uns. Por isso, recusamos muitos génios informáticos que não conseguem ser interlocutores para os nossos clientes.»

O ciberterrorismo, admite, é a grande preocupação em todo o mundo e os alvos podem ser uma central de energia ou uma fábrica de alimentos infantis. Não há limite para a ousadia, logo «não pode haver limite aos testes de segurança», afirma Bruno Castro. Regressado de Cabo Verde escassas horas antes do encontro com a NS’, o gestor da VisionWare tinha sido procurado pelo dono de uma empresa a quem apagaram do sistema informático toda a informação relativa a facturação. «Num ápice, ficaram sem saber o que tinham recebido, o que estava por cobrar e o que iam ainda receber…» A VisionWare descobriu o quê, quando e quem – e Bruno Castro só deixou o arquipélago quando os investigadores ficaram na pista do criminoso.

“Your business our mission”: O seu negócio, a nossa missão

PME líder no seu sector, conta com um quadro de trinta a quarenta colaboradores e abriu o capital à Edisoft, a agência portuguesa para o desenvolvimento de software.

Facturou cerca de 2,5 milhões de euros em 2010, destacando-se pelo facto de ser a única a trabalhar na vertente forense da segurança informática. L.M.

20/21

Um furo no restauro

de arte contemporânea

Um caso de estudo em inovação no ramo das indústrias criativas.

Quando alguém resolveu pegar na roda, que foi inventada há milénios, e na mala de viagem, uma invenção mais recente mas ainda assim antiga, e juntar as duas coisas num trolley, pensou no que ninguém tinha pensado antes e… inovou. Na 20/21, um grupo de jovens pensou juntar os seus cursos de Gestão e de Restauro à Arte Contemporânea e formar a única empresa especializada em restauro de arte contemporânea em Portugal, alcançando assim o estatuto de empresa inovadora.

Incubada na InSerralves, no Porto (o cluster de indústrias criativas apoiado pela Fundação e pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte), onde deverá permanecer mais um ano além dos dois da praxe, a 20/21 é muito mais do que deixam transparecer os verdes anos dos seus fundadores. Marta e Joana, de 26 anos, e Pedro, de 27, mais o sócio Luís Silva (também de 27), que está a fazer o doutoramento em Cádis, ousaram avançar com o projecto que apresentaram à Fundação de Serralves, nas condições de segurança e certificação que imprimem em cada trabalho, e até num conceito que nem sempre anda próximo do mundo das artes: quando lhes aparece algum trabalho sobre o qual não têm pistas, os jovens da 20/21 procuram, pelos quatro cantos do mundo, especialistas na matéria para os ensinar – a eles e a quem mais queira.

«Dos quatro workshops que realizámos até agora, uns em Serralves outros na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, temos aprendido nós e uma série de estudantes e especialistas de museus da Europa», conta Pedro Pardinhas, o sócio-gestor que tende a hipervalorizar esta vertente de multiplicação do saber pela divisão de conhecimento. A cada novo workshop, dependendo dos limites impostos pelo formador especialista, têm tido 12, 15, 50 inscritos, oriundos de França, Espanha, Grécia, Portugal, que aprendem a teoria de cada nova técnica – e, sobretudo, a prática.

Marta e Joana, ambas de Braga, formaram-se em Restauro no Politécnico de Tomar, uma foi estagiar para Praga (República Checa) e a outra para Bilbau (Espanha), e foi no estágio que tomaram contacto com a arte contemporânea. «Quando lemos a lista de candidaturas à incubadora de Serralves e vimos lá “restauro de arte contemporânea”, corremos a recolher toda a informação sobre este mercado e vimos que fazia todo o sentido», conta Pedro, deixando para Joana e Marta a descrição do que se faz, afinal, numa empresa de restauro de arte contemporânea.

Para já lida-se com muitos plásticos, materiais e técnicas um pouco experimentais, pouco consolidadas e de resultados muitas vezes imprevisíveis. «Alguns dos problemas são de convivência entre os materiais, que nem se colocam na altura em que o artista cria a obra, mas que aparecem com o tempo», exemplifica Joana.

O primeiro trabalho que aceitaram foi a recuperação de um conjunto de esculturas de Henrique Silva (até há bem pouco tempo director da Bienal de Cerveira), que estavam muito maltratadas após uma exposição. «Havia fracturas, lacunas, alterações cromáticas», conta Joana, revivendo o momento que é quase uma marca de água no trabalho da 20/21: «O mais giro é que foi possível contar com a colaboração do artista, que se encarregou de parte do trabalho, quando chegou à parte cromática.»

Na empresa é assim mesmo: o ponto de partida na abordagem de uma obra é sempre procurar saber se o artista ainda está vivo e de que forma pode dar todas as informações sobre a peça a restaurar.

«Temos em perspectiva um contrato para restauro de um conjunto de esculturas de arte pública e ainda não entregámos as condições ao cliente porque estamos à espera de informação vinda da assistente do escultor francês que realizou a obra», diz Pedro, o sócio mais atento às contas.

«Muitas vezes não temos informação sobre o valor das obras que somos chamados a restaurar. Já tivemos peças de grandes dimensões, como um conjunto de painéis de Júlio Resende, enviadas por um banco para restauro; já tivemos obras de Julião Sarmento, e temos peças mais singelas, mas que têm sempre grande valor para quem no-las confia», diz Marta.

O grau de sucesso da 20/21 é mensurável pelo ritmo do seu progresso, que fez de uma pequena empresa dependente de Serralves uma casa que conseguiu montar o seu próprio atelier, ampliar as instalações e, agora, facturar o suficiente para começar a pagar as contas dos sócios.

Os três riem, Marta e Joana com cara de alívio, Pedro com ar de orgulho. «As contas já conseguimos pagar, e até já consegui sair de casa dos meus pais, em Braga, e alugar uma casa baratinha aqui no Porto», diz Marta.

Joana olha para a parede do escritório contíguo às salas de trabalho, onde um quadro de uns 40×40 centímetros é iluminado pela luz que entra pela janela, voltada para o bairro das galerias de arte no Porto: «É mais bonito do que algumas coisas que já tivemos aqui para restaurar, mas é a única peça que é nossa. Ainda assim, salvámos o quadro do lixo!», conta, provocando uma gostosa gargalhada a três.

Fonte: Jornal de Notícias

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