Capital Humano: Governo aconselhado a criar condições para travar fuga de cérebros

Junho 8, 2010 by  
Filed under Notícias

A chamada ‘fuga de cérebros’ está a aumentar em Portugal e vai continuar a crescer no futuro, cabendo ao Governo criar condições para colmatar essas saídas, defendeu o coordenador do Observatório da Emigração.

“Aumentou o peso da população que migra, não tanto pelas razões económicas, mas mais pela procura de condições de realização pessoal e profissional. Sobretudo na área do trabalho qualificado e essa é uma emigração que inevitavelmente continuará a aumentar”, disse Rui Pena Pires.

Em entrevista à Lusa por ocasião do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se assinala na quinta-feira, o sociólogo alertou para a necessidade de Portugal criar condições para colmatar a saída de pessoas qualificadas.

“Ninguém acreditará se alguém disser que dentro de 10 ou 15 anos teremos capacidade de dar emprego com condições de realização profissional elevadas a sectores muito qualificados equiparados aos Estados Unidos, à União Europeia (UE), à França ou à Alemanha. É impossível”, afirmou.

O especialista em migrações contrariou ainda a ideia recente de que há uma nova vaga de emigração, afirmando que essa vaga “não é nova”, simplesmente “esteve muito tempo escondida do olhar público”. “A emigração recomeçou no final dos anos 1980. Assim que se deu a integração europeia, os acordos facilitaram a liberdade de circulação e recomeçou a emigração portuguesa para o espaço europeu”.

A novidade desta vaga emigratória prende-se com os destinos escolhidos. Além dos tradicionais França, Luxemburgo e Alemanha, surgiram também o Reino Unido, Espanha e, mais recentemente, Angola.

Outra novidade da emigração portuguesa prende-se com a sazonalidade, que não existia nos anos 1960 e 1970 quando as pessoas saíam do país para sempre ou por muitos anos, disse.

Afirmando que, por ano, saem de Portugal entre 60 a 70 mil pessoas, Rui Pena Pires estima entre 2,3 milhões e 2,5 milhões o número de portugueses no estrangeiro e ressalva que os cinco milhões frequentemente referidos contabilizam os filhos dos emigrantes já nascidos nos países de acolhimento. “Mesmo assim, é um número muito elevado para um país com 10 milhões de habitantes”, ressalvou.

O sociólogo destacou a dificuldade de se saber ao certo quantos portugueses saem para trabalhar no estrangeiro porque “não há estatísticas de saída”, afirmando que “os países que as têm são países que não têm um regime democrático”.

Numa análise comparativa entre a emigração dos anos 1960 e a recente, Rui Pena Pires disse que as “diferenças que existem resultaram da transformação da população portuguesa”. “Hoje, parte dos sectores que são responsáveis pelo crescimento da emigração na Europa são sectores ligados à limpeza, à segurança e à manutenção dos espaços urbanos. Nos anos 60 era muito maior o peso da indústria”, afirmou.

O coordenador do Observatório da Emigração disse ainda que outra mudança prende-se com a facilidade de comunicação e com o facto de os portugueses irem encontrar na Europa sociedades muito semelhantes à portuguesa, pelo que a integração é mais facilitada e a necessidade de se agruparem numa comunidade fechada para recordarem o seu país é quase inexistente.

No entanto, assegurou que há um elo comum que atravessa gerações de emigrantes: partem sempre com a ideia de regressar.

Fonte: Económico



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