Ciência: Génios do futuro

Junho 1, 2010 by  
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18º Concurso de Jovens Cientistas e Investigadores realizou-se no Museu da Electricidade, em Lisboa.

Centenas de trabalhos apresentados por alunos de escolas de várias regiões de Portugal chegaram à fase final do concurso promovido pela Fundação da Juventude. As quatro equipas vencedoras, da ilha de S.Miguel, de Odemira e da Covilhã irão representar o país em provas internacionais.

Gritos de alegria, abraços e muitas lágrimas. Foi assim que o primeiro prémio do 18º concurso de Jovens Cientistas e Investigadores foi recebido por Carla Raposo, Filipe Amaral e Tiago Costa, da Escola Secundária de Lagoa, S. Miguel, Açores.

“Quando ouvimos a anunciarem que o prémio era para a área de Ciências Médicas, o nosso coração ia saltando da boca. E quando disseram o nome do nosso projecto nem queríamos acreditar que éramos mesmo nós os vencedores. Estamos muito emocionados”, revelam os alunos ao Ciência Hoje. A atribuição da distinção foi decidida na IV Mostra Nacional de Ciência que decorreu sexta-feira e sábado em Lisboa.

O trabalho vencedor consiste no desenvolvimento de um programa de biomonitorização da doença vibroacústica que é causada pela exposição excessiva a ruídos de baixa frequência a que muitos indivíduos estão sujeitos. Afecta principalmente técnicos de aeronáutica, pilotos de aeronaves e assistentes de bordo.

Os efeitos mais comuns manifestam-se no espessamento das estruturas cardíacas. Para analisar os efeitos dos ruídos de baixa frequência no organismo, os jovens investigadores recorreram à espécie Helix aspersa (caracol de jardim) como bioindicador e biomarcador.

Para tal, procederam à amostragem de espécimes de diversos locais da ilha com diferentes características e ruído e analisaram a glândula digestiva de modo a averiguarem a presença ou ausência de efeito. Parece complicado, mas não é. Os autores do projecto explicam ao CH que “a ciência é para todos e desde que haja empenho e gosto consegue-se sempre obter resultados”.

O segundo prémio foi entregue a Inês Marques e Kristoffer  Hog por Pedro Estácio Marques
O segundo prémio foi entregue a Inês Marques e Kristoffer Hog por Pedro Estácio Marques

Aos jovens portugueses, deixaram ainda uma mensagem: “Participem, tenham coragem, não pensem que não é possível pois nós nunca imaginámos que poderíamos ganhar e ganhámos”.

Coordenada pela professora Alexandra Medeiros, a equipa da secundária da Lagoa ganhou o direito de representação de Portugal no concurso internacional de Jovens Cientistas. Segundo a docente, também vencedora do Prémio Especial Coordenador pela dedicação no acompanhamento do trabalho, o tema do projecto “não é muito estudado ainda em Portugal, apesar de haver um investigador que tem alguma notoriedade neste campo a nível internacional, o Dr. Nuno Castelo Branco”.

O que os alunos pretenderam foi “dar um contributo para a falta de informação que existe. E acho que é esta a principal inovação no trabalho deles, tentar fazer com que se fale cada vez mais sobre uma doença que é grave e que a maior parte das pessoas desconhece”, explica.

Ciência não é para marrões

O segundo prémio do concurso foi atribuído a Inês Marques e Kristoffer Hog, da Escola Secundária Dr. Manuel Candeias Gonçalves, Odemira, pelo projecto “Rochas do Sudoeste – os mistérios escritos na pedra”. “Termos sido escolhidos como o segundo melhor projecto é para nós uma grande honra”, revelam os alunos da área de Ciências da Terra.

“O nosso trabalho é sobre formações rochosas de granito em forma de esfera. Trata-se de um projecto diferente e novo, não é a continuação de outros que já existem. É algo que ninguém sabe como se formou, que muito pouca gente sabe que existe e nós agora podemos dar a conhecer”, afirmam.

Apesar das muitas horas, dias, semanas e fins-de-semana dedicados ao trabalho, os autores garantem que “a ciência não é para marrões, a ciência pode ser divertida e desafiante, pois há bastantes mistérios por desvendar e são estes que nos motivam”. Mais acrescentam: “Muita gente diz que a Geologia é chata, mas por detrás de cada pedra há uma história incrível”.

O terceiro e quarto prémios foram atribuídos à equipa da Escola Secundária Dr. Manuel Candeias Gonçalves, Odemira, e à equipa da Escola Secundária Campos Melo, Covilhã, respectivamente. “Anfíbios e Répteis: completar o Atlas para a região de Odemira” foi realizado pelos alunos da área de Biologia, Francisco Silva, João Pereira e Ruben Gonçalinho. O projecto “Hologramas de Transmissão e Módulo de Young” é da autoria de Ana Rocha, André Fernandes e Vitória Esteves, alunos da área de Física.

A título excepcional, este ano foi ainda atribuído o Prémio Especial Ambiente. Os alunos Guilherme Freches, Isabel Rosa e Daniel Proença, da Escola Secundária do Fundão, venceram com o projecto “A história da um aquário auto-suficiente”.

Prémios em dinheiro e viagens

“Na mostra nacional atribuímos 2000 euros ao primeiro prémio, 1500 euros ao segundo, 1000 euros ao terceiro e 500 euros ao quarto. O prémio especial ambiente ganha 1000 euros”, afirma Susana Chaves, coordenadora de projectos da Fundação da Juventude.

Os vencedores terão ainda oportunidade de participar em projectos internacionais. “O primeiro e segundo lugares vão representar Portugal na Final Europeia de Jovens Cientistas e Investigadores. O terceiro lugar vai participar numa semana de investigação sobre animais selvagens que vai decorrer na Suíça, no final de Julho, onde vão mesmo fazer trabalho de campo. E o quarto prémio vai participar numa feira internacional de ciências que vais decorrer nos Estados Unidos da América, em Maio de 2011. Como a qualidade dos projectos era bastante boa decidimos atribuir 13 menções honrosas não pecuniárias”.

Os trabalhos científicos foram avaliados por um júri composto por 12 elementos e presidido por Gaspar Barreira, do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas de Lisboa. Para além dos indicadores de raciocínio, apresentação e experimentação dos projectos, foi tido em conta o nível educacional de cada concorrente, a criatividade, a originalidade e a clareza.

“Tenho três princípios na vida que não renuncio: estar atento, ser desconfiado e ficar insatisfeito”, afirmou Gaspar Barreira na abertura da cerimónia de entrega de prémios. “Os premiados são aqueles que nos parecem responder a estes princípios. Tratam-se de trabalhos que revelam um olhar estimulante sobre o mundo, trazem algo de novo que não vemos na televisão, nas revistas, nem está na moda das conversas mediáticas”, explicou.

Final Europeia em Portugal

“É muito importante haver jovens interessados em ciência e tecnologia e sobretudo que se habituem a fazer pequenas investigações independentes”, afirma Ana Noronha ao CH.

A directora executiva da Ciência Viva, entidade apoiante do concurso, sublinha, no entanto, que “é pena não haver mais comunicação social envolvida e que o acontecimento não seja mais divulgado para se perceber que por detrás das dificuldades económicas que o País, a Europa e o mundo atravessam, existe uma esperança de futuro porque existe uma quantidade de jovens que estão a adquirir formação, conhecimento e interesse por ciência e tecnologia”.

Em relação à Final Europeia de Jovens Cientistas e Investigadores, que se realiza em Setembro, no Museu da Electricidade, em Lisboa, a responsável considera que “vai ser importante para passar a iniciativa para outro patamar”. Isto é, “quando o concurso europeu se realiza noutro país, só os jovens que foram seleccionados para lá irem é que têm acesso à mostra, têm oportunidade de comparar e até aprender com os seus pares. Sendo o concurso feito aqui, com a feira aberta ao público, todos os jovens e professores vão ter oportunidade de ver e de aprender uns com os outros”, explica.

Susana Chaves, coordenadora de projectos da Fundação da Juventude, explica ao CH que “é a segunda vez que este concurso se irá realizar em Portugal, a primeira vez foi há 12 anos no Porto”. E adianta: “Vai ser uma grande final europeia onde vão participar os melhores projectos de toda a Europa. O primeiro prémio são 7500 euros, o segundo 5000 euros, o terceiro 3500 euros, e há ainda muitas viagens”.

Neste concurso espera-se que participem 200 jovens e 40 representantes de vários países. Trata-se de uma iniciativa importante para o País porque “envolve os jovens no desenvolvimento de projectos científicos que podem fazer vir a fazer deles grandes génios no futuro”, sublinha a coordenadora do18º Concurso Nacional de Jovens Cientistas e Investigadores.

Fonte: Ciência Hoje



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