Economia: Exportar para dar a volta à crise

Junho 15, 2010 by  
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Veja quais são os principais sectores exportadores e o valor económico de cada um deles. É com uma maior aposta nestes sectores que Portugal poderá sair mais facilmente da difícil situação económica em que se encontra.

Turismo

É um dos sectores mais promissores ao nível das exportações, e onde Portugal apresenta francas vantagens competitivas, a começar pelo clima, diversidade do território e índices de segurança. Na balança das exportações representa um caso atípico, uma vez que as receitas externas são aqui geradas “dentro da própria casa”. Com um peso avaliado em cerca de 11% do Produto Interno Bruto (PIB), o turismo já tem vindo a ser considerado por sucessivos Governos como “o motor” da economia nacional.

O turismo em Portugal teve um pico em 2007, ano em que as receitas externas geradas cresceram 11%, atingindo o valor mais alto de sempre: 7,4 mil milhões de euros, seis vezes mais que as exportações da Autoeuropa, 45,5% do total das exportações de serviços, e permitindo cobrir 43% do défice da balança comercial do país. Mas depois entrou numa trajectória de não-crescimento, sendo um sector extremamente volátil e que sofre directamente na pele os efeitos de factores externos e tão imprevisíveis como epidemias, crises, ataques terroristas ou catástrofes naturais. No ano passado, a fobia de viajar gerada pela gripe A veio agravar as quebras já evidenciadas pela crise financeira global, que atingiu em cheio o principal mercado turístico de Portugal, o Reino Unido – que se ressentiu ainda da desvalorização da libra face ao euro. As receitas turísticas do país com peso nas exportações, geradas por estrangeiros, caíram 6,7% em 2009, para 6,9 mil milhões de euros.

Os dados de 2010 parecem ser um pouco mais animadores. Segundo o Banco de Portugal, as receitas turísticas cresceram 6,3% no primeiro trimestre, atingindo 1,2 mil milhões de euros, e a subida foi particularmente expressiva em Março (12%), este ano o mês em que se celebrou a Páscoa. Mas desde então, não há ainda dados consolidados. E em Abril veio um novo sinal vermelho, com a nuvem de cinzas do vulcão islandês que obrigou ao encerramento aéreo europeu, tendo Portugal comunicado à Comissão Europeia que os prejuízos causados no país foram da ordem dos 35 a 40 milhões de euros.

Energia

Os refinados de petróleo continuam a ser uma das principais exportações portuguesas. Sem ter garantias sobre o comportamento dos mercados até ao fim do ano, a Galp admite que as perspectivas existentes são positivas porque no primeiro trimestre de 2010 as exportações mais do que triplicaram em relação ao primeiro trimestre de 2009.
Em 2009, as exportações da Galp ascenderam a 2,4 milhões de toneladas – menos 3% que em 2008 -, sendo a gasolina o produto mais exportado, com 34% deste total. O fuelóleo português também tem tido bastante procura e no ano passado representou 27% das exportações da Galp. Entre as emportações de refinados ainda figura o gasóleo (5% do total). A empresa de energia também exportou gás GPL (2% do total). Na lista dos produtos exportados pela Galp em 2009, ainda contam as naftas (14% do total) e diversos produtos químicos (12%), bem como lubrificantes (4%) e betumes (2%).

Os EUA lideraram os mercados de exportações, onde a Galp colocou 18% dos 2,4 milhões de toneladas de produtos vendidos ao exterior. Seguiu-se o México (13%), a Grã-Bretanha (12%), a Holanda (11%), Grécia (8%), Gibraltar (7%) e a Suiça (com 6%). Apesar da queda global de 3% no volume exportado no ano passado, as vendas de gasolinas aumentaram 9% em 2009.

Por valores, as exportações de 2009 ascenderam a €1200 milhões, o que corresponde a uma redução de €300 milhões relativamente ao valores exportados em 2008, segundo refere a Galp.

A explicação dada para a redução dos volumes exportados em 2009, comparativamente a 2008, relaciona-se com o facto da refinaria de Sines ter parado durante um mês e meio no primeiro trimestre de 2009. Pela mesma razão, as exportações no primeiro trimestre deste ano, triplicaram em relação ao período homólogo de 2009.
Atendendo às obras que a REN – Redes Energéticas Nacionais têm em curso no terminal de Gás Natural Liquefeito de Sines (GNL), que aumentam a capacidade de abastecimento de GNL por navio, esta empresa admite que, a partir de 2012, Portugal também terá capacidade excedentária de GNL, podendo vender este combustível a Espanha. Mas isso dependerá dos operadores de mercado que compram GNL – a Galp e a EDP – e da respectiva estratégia comercial que possam vir a ter para o mercado espanhol.

No domínio da electricidade, nos primeiros cinco meses do anos Portugal aumentou as exportações para Espanha em 222,8% [TXT](vendemos 982 gigawatts/hora), enquanto que as importações se cifraram nos 946 Gw/h (uma quebra de 61,1% nas importações). Um saldo claramente positivo para Portugal, ao que não terá sido alheio o bom ano de chuva e de vento que estamos a ter, com a produção de energia hídrica e eólica a aumentar consideravelmente. Ainda no domínio das renováveis, Portugal também já está a exportar, tanto tecnologia, para vários países da Europa, África e Médio Oriente, como máquinas, nomeadamente torres eólicas.

Calçado

A radiografia da indústria têxtil e do vestuário mostra uma quebra de 20% nas exportações desde 2001, a reflectir a abertura gradual do mercado aos produtos asiáticos, a saída do investimento estrangeiro e a deslocalização de encomendas. Mantém, no entanto, uma balança comercial positiva e exporta 2/3 da sua produção, contribuindo com 11% (€3,5 mil milhões) para o total das exportações nacionais. A flexibilidade e capacidade de adaptação são trunfos deste sector, a investir na especialização, têxteis técnicos, marcas próprias e distribuição. O baixo nível de qualificação da mão-de-obra e da gestão será uma das suas principais debilidades.

O diagnóstico para a indústria do calçado é idêntico, mas o sector tem resistido um pouco melhor à queda das exportações e continua a apresentar-se como “a mais internacional das indústrias portuguesas”, com as vendas para 132 países a somarem €1,2 mil milhões, ou 93% da sua produção, enquanto as importações ficam nos €420 milhões. A aposta na valorização do produto e marcas próprias permitiu aumentar o preço médio do par de sapato para os €20.

Floresta

A seguir ao turismo é provavelmente o sector que mais contribui para o PIB e o que mais postos de trabalho pode vir a criar num futuro próximo. No total o sector florestal (que inclui a pasta de papel, a transformação de pasta em papel, a biomassa, a madeira para mobiliário, as resinas, entre outros), gera cerca de €9 mil milhões. Só no ano passado, o sector da pasta e do papel, registou investimentos de €2 mil milhões, claramente em contraciclo com o resto da Europa, onde só se falava em falências, encerramentos e despedimentos. A Portucel, em Setúbal, instalou aquela que agora é considerada a maior máquina de papel do mundo (ver foto ao lado) e já está a colher os frutos desse investimento, com as exportações a aumentarem. Aliás, Portugal continua a liderar no papel praemium, a nível mundial. Se o cadastro territorial do país estivesse devidamente actualizado o sector da floresta poderia duplicar de valor, segundo alguns especialistas. Porquê? porque passaria a ser possível plantar mais em zonas cujos donos actualmente são desconhecidos.

A fileira da madeira e mobiliário também apresenta uma balança comercial positiva em €250 milhões e tem uma quota de 10% (dois mil milhões de euros) nas exportações nacionais. A aposta das empresas na inovação, qualificação dos recursos humanos, partilha de canais de distribuição e abertura de novos mercados tem permitido aumentar as vendas no exterior. Para manter essa tendência, o sector precisa de ganhos de produtividade e de ultrapassar algumas debilidades ao nível do marketing, do investimento em I&D.

Construção

A carteira de encomendas das três maiores construtoras (Mota-Engil, Teixeira Duarte e Soares da Costa) é de ¤7,5 mil milhões. Quase 60% desse valor resulta de obras no exterior. Este facto ilustra a nova realidade da engenharia portuguesa. A redução drástica da actividade no mercado doméstico conduziu à exportação de capacidade e tecnologia para manter facturação, margens e salvar o emprego. Em 2009, a produção em Portugal caiu 10%, para €17,7 milhões.

No exterior, terá crescido ligeiramente para €3,5 milhões. A ofensiva em Angola, com centenas de empresas e até subempreiteiros a operar, explica que as construtoras portuguesas representem 15% do mercado africano, Este desempenho não se reflecte na balança comercial, mas consagra o esforço de uma indústria que não precisa de feiras de moda nem de promoções para se impor no estrangeiro. O negócio internacional representa o triplo das exportações de calçado e 10 vezes as de vinho do Porto.

A cruzada internacional combina a investida em mercados emergentes onde há défice de engenharia, com adjudicações em países exigentes e sofisticados, como a Irlanda, Israel ou Estados Unidos. Só a Mota-Engil produziu em 2009 €800 milhões, com mais de 300 obras em 20 países.

Industria farmacêutica

A indústria farmacêutica é, sem dúvida, um dos sectores que podem ajudar o país a crescer através das exportações. Segundo a Associação Portuguesa da Industria Farmacêutica (Apifarma), o valor das exportações de matérias-primas e de produtos farmacêuticos ascendeu a 447 milhões de euros no ano passado, mais 9% face a 2008 e mais 45% do que há cinco anos. “Existe claramente uma orientação da indústria de base nacional para a exportação, bem como para a participação em parcerias a nível local de diferentes países”, foca a Apifarma.

O PharmaPortugal, uma parceria público-privada que envolve a Apifarma destinada a estimular a internacionalização e a exportação por parte dos laboratórios portugueses, deu um forte empurrão. Existem, em Portugal, 25 empresas que produzem medicamentos (19 nacionais e 6 multinacionais) e destas 15 fizeram parte desta iniciativa. Na Europa, os principais países para onde vendemos são a Alemanha, Reino Unido, França, Espanha, Bélgica, Dinamarca e Suíça, na Europa. Mas também estamos noutros mercados os EUA, países do Magreb, Médio Oriente, Venezuela, Brasil, Rússia África do Sul, Moçambique, Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Austrália, Japão, Canadá, México e Macau.

Bens de equipamento

Portugal conseguiu criar nas últimas décadas um sector industrial de máquinas e aparelhos que, segundo a classificação do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) é, actualmente, o que tem maior peso relativo nas exportações. Nos primeiros três meses de 2010 vendemos ¤993 milhões em maquinaria, menos 6% do que em igual periodo do ano passado. Uma quebra que se ficou a dever à débil conjuntura económica dos principais mercados. É o caso, por exemplo, do subsector dos moldes que exporta 95% da produção e que sofreu com o adiamento de investimentos dos clientes tradicionais (indústria automóvel). O crescimento no futuro passa pela conquista de novos mercados em países emergentes.

Minérios

Para além das minas da Panasqueira (volfrâmio), da Somincor (sobretudo cobre) e de Aljustrel (onde se pode vir a extrair zinco), há ainda um projecto de mina a céu aberto, na Guarda, de onde se está a extrair lítio. Este mineral, até agora utilizado principalmente na indústria cerâmica, tanto no mercado doméstico como para exportação, vai passar a ter em breve uma nova utilização: construção de baterias de iões de lítio para carros eléctricos.

Alguns analistas já rebaptizaram o lítio de “petróleo português”, precisamente devido ao potencial de procura que irá ter ao longo dos próximos anos, visto que todas as grandes construtoras automóveis estão a apostar nos carros eléctricos. E Portugal é já o 5º produtor mundial de lítio, mas tem reservas para 70 anos. Estamos perante um sector (extractivo) em que tudo o que se produz é para exportar. Todos os analistas contactados pelo Expresso sobre a evolução previsível deste segmento são unânimes: “só pode evolui num sentido, o crecimento”.

Transportes

Segundo o INE, entre Janeiro e Março de 2010, as exportações de automóveis para transporte de passageiros aumentaram 17,6%. Para dar resposta à procura na Europa, nos primeiros meses de 2010, todos os fabricantes de automóveis aumentaram a produção. Entre Janeiro e Abril, a produção de veículos aumentou 25,3%, tendo sido produzidos 51.127 unidades nas cinco fábricas nacionais – VW Autoeuropa, PSA Peugeot-Citroën, Mitsubishi Fuso Truck Europe, Toyota Caetano Portugal e V. N. Automóveis. Segundo a ACAP (Associação Automóvel de Portugal), “a produção de automóveis ligeiros de passageiros registou um aumento de 15,5%, a de comerciais ligeiros de 58,6% e a de veículos pesados de 88,3%”. Só a VW Autoeuropa, a maior fábrica portuguesa, tem como objectivo aumentar a produção em cerca de 20% este ano e ultrapassar os 100 mil carros. Até Abril já saíram das linhas de montagem da fábrica de Palmela 31.747 carros, o que representa um aumento de 17,8% face a idêntico período de 2009.

Tecnologias

Se há sector onde o país fez assinaláveis progressos, foi no das tecnologias de informação. Em 2009, pelo terceiro ano consecutivo, a balança tecnológica foi positiva (€¤85 milhões). E existe uma mão cheia de empresas de base tecnológica em crescimento acelerado que dão cartas a nível internacional em alguns nichos. Mas ainda falta lhes volume para fazer mexer o ponteiro das exportações. Também há muito por fazer ao nível da venda no exterior das capacidades do país em prestar serviços de outsourcing de processos de negócio (BPO), actividade que, segundo a Associação Portugal Outsourcing, poderá criar 12 mil novos postos de trabalho e alcançar mais de €1300 milhões de exportações em 2015.

Fonte: Expresso



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