Inovação: Inovar não basta, é preciso ser empreendedor e exportar

Janeiro 31, 2012 by  
Filed under Notícias

Ter ideias inovadoras não chega. É preciso transformá-las em bons projetos, com visão empreendedora, e pensar sempre na internacionalização dos produtos. O mercado nacional é demasiado pequeno para os investimentos que a inovação exige por parte das empresas. Foram estas algumas das conclusões do quinto debate Made in Portugal organizado pelo DN, dedicado ao tema “A Inovação em Portugal”. O painel contou com Sérgio Simões (Bluepharma), Miguel Pina Martins (Science4you), José Mendes (Universidade do Minho), Sérvulo Rodrigues (ES Ventures) e Manuel Teixeira (ANJE). Os intervenientes defenderam que Portugal deve apostar no sector para subir no ‘ranking’ da inovação e… das exportações

Para inovar, comecemos pelo futuro: Portugal tem de investir no empreendedorismo, estreitar as relações entre universidades e empresas em matéria de inovação e fazer do mundo o seu mercado. Estas foram algumas das ideias deixadas pelo painel sobre a “Inovação em Portugal”, em mais um debate promovido no auditório do DN no âmbito da iniciativa Made in Portugal.

“A inovação tem de ter valor económico, senão não passa de uma curiosidade”, defendeu o presidente executivo da ES Ventures, empresa de capital de risco do Grupo Espírito Santo. Sérvulo Rodrigues explica ainda que uma empresa da área da inovação não pode resumir-se a produzir para consumo ‘interno’: “O mercado nacional é bom como ‘piloto’, mas estas empresas têm sempre de pensar no mercado global.”

Inovar. Empreender. Exportar. É esta a cadeia que tem de ser seguida no campo da inovação, sob pena de haver desperdícios numa crise que é, como explicou Sérvulo Rodrigues, “omnipresente”.

A necessidade de fomentar o empreendedorismo esbarra na tradição empresarial portuguesa e em algumas lacunas que ainda subsistem nas empresas e naqueles que continuam a ser um dos maiores focos de inovação do País: as universidades.

Outro dos intervenientes do debate – moderado por António Perez Metelo, redator principal do DN – foi o vice-reitor da Universidade do Minho, José Mendes, que alertou para o “défice de conhecimento na transferência da tecnologia“. “Muitas vezes falta o know how para, por exemplo, saber como vender uma patente”, acrescenta. Já Sérgio Simões, vice-presidente do conselho de administração da Bluepharma, defendeu que é preciso “tempo e investimento”. Sérgio Simões garante que em termos de criatividade “há muitas ideias, mas falta um método”.

“Existe algum dinheiro para investir nos projetos, mas há carência de bons projetos e investimento sério. Uma coisa é colocar 100 mil euros numa empresa, outra é colocar 5 milhões de euros. E muitas vezes as empresas precisam desse dinheiro para ganhar escala”, explica Sérgio Simões.

Sérvulo Rodrigues ripostou dizendo que a ES Ventures investiu 250 milhões de euros na empresa desde 2000 e que “todas as semanas” são-lhe apresentados 11 projetos de pessoas que procuram o investimento da ES Ventures, metade dos quais portugueses.

Todos os intervenientes do debate concordaram que as empresas da área de inovação precisam de ter uma escala global e serem direcionadas para a exportação. Caso contrário, tudo não passará de uma brincadeira. Foi, no entanto, com brinquedos (científicos), que Miguel Pina Martins, presidente do conselho de administração da Science4you, conseguiu atingir o sucesso e começar a exportar.

Miguel Pina Martins aponta como um dos entraves ao crescimento da inovação o facto de o povo português não ser “naturalmente empreendedor. Temos de conseguir contornar que os jovens tenham menos aversão ao risco e começar a ser também um País exportador”. O presidente da comissão executiva da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), Manuel Teixeira, concordou dizendo que a crise “obrigou-nos a mudar de vida”, criticando algumas das decisões políticas que não travaram a troca de uma aposta “nas fábricas pela construção civil”.

Manuel Teixeira defendeu ainda que se contratem jovens, não só portugueses como também “quadros estrangeiros” para as empresas da área da inovação, que tenham conhecimento dos mercados para potenciarem as exportações.

O vice-reitor da Universidade do Minho, José Mendes, refere que “Portugal está em 30.º lugar no índice de inovação, mas devia estar em 15.º ou 16.º e as exportações não deveriam representar 32% do PIB, mas 50%”.

Por sua vez, Manuel Teixeira deu como exemplo a compra de uma participação da EDP por parte de uma empresa chinesa como um sinal de que “Portugal pode ser uma lancha rápida entre Brasil, Europa e China”.

Os participantes no debate do Diário de Notícias veem na crise uma oportunidade para mudar o País. “A austeridade, que sofremos de vez em quando, aguça-nos a criatividade”, lembrou José Mendes. Miguel Pina Martins afirmou que “a crise deve ser vista pelo lado positivo, pois vai ajudar a criar métodos” que permitam ter sucesso no futuro.

Universidades grandes aliadas

Só juntando as empresas e as universidades é que a inovação poderá atingir o sucesso. Daí que todos os intervenientes no debate tenham lembrado o importante papel destes estabelecimentos de ensino na área.

Sérvulo Rodrigues acredita que “as universidades estão cada vez mais mobilizadas para que os trabalhos académicos incluam o empreendedorismo.” Embora a relação entre as empresas e as universidades nem sempre seja fácil, Sérgio Simões deu como exemplo a Bluepharma – uma empresa que exporta 73% daquilo que produz – e que beneficia de uma parceria com a Universidade de Coimbra.

Miguel Pina Martins admite igualmente que ainda era estudante quando teve a ideia de criar a Science4you e que foi o facto de os seus produtos “terem o selo da Faculdade de Ciências que levou ao seu sucesso, uma vez que é um selo de qualidade”.

Já o vice-reitor da Universidade do Minho defende uma alteração do paradigma. “Devia ser o capital de risco a ir para a universidade. Porque não colocar empresas de capital de risco no campus?”, propôs José Mendes.

Em matéria de inovação e empreendedorismo, há ainda um longo caminho a percorrer. O painel de convidados concordou que não basta ter uma boa ideia. É preciso torná–la num projeto que traga valor acrescentado. E depois: trabalhar. Como disse Sérgio Simões: “Tudo tem de ter 5% de inspiração e 95% de transpiração.”

Fonte: Diário de Notícias



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