Inovação: Tecnologia de geolocalização ainda é questão polêmica

Junho 11, 2011 by  
Filed under Notícias

É final da manhã. O movimento intenso de carros marca a rotina do trânsito no bairro da Imbiribeira, no Recife. Ali, na Avenida Mascarenhas de Moraes, já perto de Afogados, um jovem de 24 anos encosta o carro no pé de uma ponte. É o prefeito. Ele coloca a mão no bolso, saca seu dispositivo móvel e faz um check-in. A partir de então, familiares, amigos e colegas de trabalho são informados, precisamente, da sua localização. O prefeito não é João da Costa e sim o webdesigner Dennis Calazans, responsável pela Ponte Motocolombó, no Foursquare.

Ele conta que a mania começou há alguns meses. Dennis percebeu que algumas pessoas escreviam no Twitter o local onde estavam. Começou a se perguntar o motivo. “Foi assim que descobri o que é geolocalização e conheci o Foursquare. A turma do meu trabalho brincava de disputar a prefeitura da empresa”, lembra.

A ferramenta, acessada através de smartphones e outros aparelhos móveis, trabalha o conceito de georreferência. Ao abrir o aplicativo, a pessoa pode buscar bares e cinemas, entre outros tipos de estabelecimentos, num raio de distância definido pelo usuário. Para sinalizar que o local está sendo visitado, é feito um check-in. Existe o recurso de postar comentários para tornar o ambiente virtual mais interativo. O status de prefeito de algum lugar é entregue para os mais participativos.

“Uso o Foursquare para encontrar amigos e lugares. Viajei para Fortaleza, neste ano, e procurei um bar num raio de cinco quilômetros. Observei os que eram mais bem avaliados e fiz minha escolha”, fala Dennis. O webdesigner ainda tem uma conta no Google Latitude, mas o acesso às informações ficou restrito à família. “Minha mãe e minha irmã ficavam preocupadas se eu cheguei no trabalho ou se aconteceu alguma coisa. Para evitar um monte de telefonemas, elas acompanham meu GPS pela web”, comenta.

Para Rafael Siqueira, diretor de tecnologia e co-fundador do site Apontador (www.apontador.com.br), a internet está se transformando e trazendo novas oportunidades para melhorar a vida das pessoas. “Oferecemos mais de 30 aplicativos diferentes para Android, BlackBerry, iPhone e Windows Mobile. Os mais acessados fornecem dados relacionados a trânsito, cinema e postos de combustível”, revela.
De acordo com o empresário, o site, criado em 2000, possui cerca de 12 milhões de visitantes únicos no mês e é um dos mais acessados no Brasil. Foram registrados mais de 850 mil downloads de apps diversos. “Você viaja, tira uma foto com o celular e faz upload dela com coordenadas geográficas e um mapa integrado. São muitas as possibilidades desta nova era”, observa.

Entrevista – O especialista em marketing Estevão Rizzo é proprietário do Foursquare Brasil, comunidade nacional que repercute novidades e tendências na rede social que ajudou a difundir a geolocalização. Desde a criação do Foursquare, em março de 2009, mais de 10 milhões de usuários no mundo inteiro passaram a usar o serviço. No Brasil, cerca de 200 mil pessoas já se registraram no site. Para Estevão Rizzo, o sucesso da rede social é provocado por recursos que a tornam parecida com um game que permite competições entre amigos.

Por que a geolocalização demorou a se expandir?
A tecnologia já existia para mobiles cinco anos atrás. O problema é que faltava popularizar o smartphone. Quando isso aconteceu, várias redes foram surgindo, como Google Wave, Apontador e Facebook Places. Só que o Foursquare foi o site que mais se consolidou em nível mundial.

O que provocou esse sucesso?
Acredito que o Foursquare tem vários diferenciais. Alguns recursos promovem mais interação e dinâmica entre os usuários e, ao mesmo tempo, tornam a rede divertida. Um exemplo são badges, medalhas que podem ser conquistadas em diferentes situações. Também tem o sistema de pontuação para cada atividade realizada no Foursquare. O usuário que mais visita um determinado lugar é eleito prefeito dele.

Como o Foursquare pode ajudar as pessoas?
Chamamos de check-in o ato de um usuário visitar um local e anunciar no Foursquare. Ninguém fica dando check-in em estabelecimentos ruins. Então, isso serve como um guia dos melhores lugares. Também tem a ferramenta de tips, que são dicas e comentários postados sobre um local. Certa vez, um sócio meu foi ao Rio de Janeiro e ia jantar num restaurante que era considerado excelente. Quando ele foi ver o Foursquare, tinha vários comentários negativos dizendo que a comida nem era tão boa assim e o preço não compensava. Ele desistiu de ir!

As empresas também saem ganhando?
Depende da empresa. Check-ins e comentários positivos são publicidade virtual, uma espécie de boca-a-boca na internet. Por outro lado, locais que recebem muitas críticas ficam queimados e podem perder clientes.

Qual o futuro da publicidade no Foursquare?
Percebemos que muitos usuários ativos começam a dar sinais de desgaste e reduzem sua participação na rede. As empresas devem apostar em desenvolver challenges, que são desafios. Sites de compra coletiva já fazem isso, mas a nossa mecânica é diferente. O primeiro usuário a dar check-in num café todos os dias da semana, por exemplo, poderia ganhar um brinde ou um desconto.

As pessoas vão perder a privacidade?
Toda ferramenta inovadora, mesmo quando traz benefícios, gera desconfiança. Aconteceu com o Twitter e, agora, a história se repete com as redes de geolocalização. Costumo dizer que é simples: você só informa o que quer que as pessoas saibam. Ninguém dá check-in em motel e escreve que está com a amante. Por outro lado, um político de um país europeu se deu mal porque a esposa dele estava acessando o Google Maps, que é uma imagem estática. Ao dar zoom, ela viu o carro do marido numa rua repleta de prostitutas! Se eu sair para determinado lugar e não escrever isso nas redes sociais, outra pessoa pode postar dizendo que me viu. Então, no ponto em que a internet chegou, se você quiser fazer algo escondido sem ninguém saber, não faça. É o único jeito.

Fonte: Diário do Pernambuco



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