Marketing: Dez razões para apostar na China

Maio 31, 2011 by  
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Invariavelmente, Pequim desafia seus detratores e mantém o curso, perpetuando o mais espetacular milagre de desenvolvimento dos tempos modernos. Há muitas preocupações, principalmente com inflação, investimentos excessivos, aumentos salariais e empréstimos bancários podres. Elas derivam, porém, de generalizações malfeitas. A seguir, dez razões para não diagnosticar a economia da China fazendo inferências a experiências de outros países.

1 – Estratégia. Desde 1953, a China enquadrou seus objetivos macroeconômicos no contexto de planos quinquenais, que definiam iniciativas políticas destinadas a atingir essas metas. O 12.º Plano Quinquenal, recentemente sancionado, pode ser um ponto de virada estratégico, que prenuncia a mudança do modelo produtor bem-sucedido dos últimos 30 anos para uma florescente sociedade de consumo.

2 – Compromisso. Chamuscada por memórias de tumultos, fortalecida pela Revolução Cultural dos anos 70, líderes chineses priorizam a estabilidade. Esse compromisso foi útil e evitou os danos colaterais da crise de 2008. Ele deve desempenhar um papel igualmente importante na luta contra a inflação, contra as bolhas de ativos e na deterioração da qualidade dos empréstimos.

3 – Meios para realizar. O compromisso chinês com a estabilidade tem garras. Mais de 30 anos de reforma destravaram seu dinamismo econômico. As reformas no mercado industrial e financeiro foram decisivas e muitas outras estão a caminho. A China se mostrou uma boa aluna das crises passadas e muda o curso sempre que necessário.

4 – Poupança. Uma taxa de poupança doméstica superior a 50% serviu bem à China. Ela financiou as necessidades de investimentos e aumentou as reservas estrangeiras que protegeram o país de choques externos. Hoje, a China está preparada para absorver parte dessa poupança extra para realizar uma virada para a demanda interna.

5 – Urbanização. Nos últimos 30 anos, a parcela urbana da população chinesa cresceu de 20% para 46%, Segundo estimativas, outros 316 milhões de pessoas deverão mudar do campo para cidades nos próximos 20 anos. A urbanização sem precedente oferece um sólido respaldo para o investimento em infraestrutura e para a construção civil. Os temores de excesso de investimento e de “cidades fantasmas” estão no lado da oferta, sem dar o devido peso à demanda crescente.

6 – Consumo. O consumo privado responde por cerca de 37% do PIB da China – a menor participação em qualquer grande economia. Ao priorizar a criação de emprego, aumentos salariais e redes de segurança social, o 12.º Plano Quinquenal provocará aumentará o poder de compra do consumidor. Isso poderá levar a um aumento de até cinco pontos porcentuais do consumo na China até 2015.

7 – Serviços. Os serviços respondem por 43% do PIB chinês – bem abaixo dos padrões globais. Os serviços são uma peça importante na estratégia pró-consumo da China – especialmente indústrias de larga escala que se baseiam no atacado e no varejo, no transporte doméstico e no lazer. Nos próximos cinco anos, a parte dos serviços no PIB pode crescer mais de quatro pontos porcentuais. Essa receita cria empregos, exige eficiência de recursos e é ambientalmente favorável.

8 – Investimento estrangeiro direto. A China tem sido um ímã para corporações multinacionais que buscam eficiência e um pé no maior mercado do mundo. Esses investimentos proporcionam à China o acesso a modernas tecnologias e a sistemas de gestão – um catalisador de desenvolvimento econômico. O reequilíbrio pró-consumo significa uma mudança no investimento estrangeiro direto, afastando-o da atividade manufatureira para o consumo, o que pode impulsionar mais o crescimento.

9 – Educação. A China fez esforços imensos para criar capital humano. A alfabetização de adultos está acima de 95% e as taxas de matrícula no ensino secundário passam de 80%. Universidades chinesas formam anualmente mais de 1,5 milhão de engenheiros e cientistas. O país está prestes a se tornar uma economia com base no conhecimento.

10 – Inovação. Em 2009, cerca de 280 mil pedidos de patente domésticos foram depositados na China, situando-a em terceiro lugar em termos globais, atrás de Japão e EUA. A China é a quarta – e está subindo – em termos de pedidos de patente internacionais. Ao mesmo tempo, o país pretende manter 2,2% do PIB para pesquisa e desenvolvimento até 2015. Isso se encaixa no novo plano de investir em indústrias estratégicas, como a conservação de energia, a tecnologia da informação, biotecnologia e energia renovável.

O historiador Jonathan Spence, da Universidade Yale, alerta que o Ocidente tende a ver a China pela mesma ótica que vê a si mesmo. Pelos nossos padrões, os desequilíbrios do país são insustentáveis. Mas é por isso que a China é diferente. Ela realmente leva essas preocupações a sério. Ao contrário do Ocidente, Pequim adotou uma estrutura de transição voltada para resolver seus problemas de sustentabilidade. O país tem um compromisso e meios para executar essa estratégia. Esse não é o momento de apostar contra a China.

Fonte: Estadão



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