Marketing: Mais de metade dos jovens portugueses querem trabalhar no estrangeiro

Junho 8, 2011 by  
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É um objectivo assumido pelos jovens portugueses: 57% quer trabalhar no estrangeiro, um valor que, segundo o Eurobarómetro, ultrapassa a média europeia.

Uma experiência excelente. Os elogios são unânimes e entre os alunos contactados pelo Diário Económico que já trabalharam no estrangeiro ou que se preparam para partir em breve. Talvez por isso tantos (57% dos jovens portugueses, segundo o mais recente Eurobarómetro) queiram seguir-lhes o exemplo. A média dos jovens portugueses que querem ir trabalhar para o estrangeiro é mesmo superior à média europeia (53%).

“Desde cedo que tenho vontade de ir para fora”, conta José Maria Rego que, depois de se licenciar em Economia na Nova, tirou um mestrado na Católica. E são os jovens com qualificações mais altas os que querem mais ir viver para o estrangeiro (55% contra 33% dos que têm mais baixas qualificações).

“Tem-se sentido muito entre os alunos uma vontade de trabalhar no estrangeiro, é uma tendência que aumentou muito no último ano”, afirma Daniel Traça, subdirector de programas pré-experiência da Nova School of Business & Economics.

João Cabaça já estudou no Canadá, Irlanda, Espanha e agora trabalha em Londres. A sua carreira internacional nasceu do desejo de “aprender com novas culturas e estar exposto a novas formas de trabalhar”. As pessoas que estudaram noutros países têm maiores probabilidades de trabalhar no estrangeiro, acrescenta o Eurobarómetro. Em Portugal, 13% dos jovens estudam ou estudaram no estrangeiro, segundo a sondagem. Na Europa, a média é de 14%.

O problema é que muitos destes alunos confessam pouca vontade de voltar a Portugal, pelo menos por enquanto. “O nosso drama é que o país não tem condições para receber esses alunos de volta e a experiência internacional que trazem”, defende Fátima Barros, directora da Católica Lisbon School of Business and Economics. Apesar disso, lembra Daniel Traça, “fechar as pessoas cá e não as deixar desenvolver é que é a atitude errada”.

No estrangeiro para ficar
“O meu desejo é mesmo ficar” em Barcelona, diz Rita Gouveia. Um dos motivos é a “falta de oportunidades e credibilidade no nosso país”. Rita aponta que “os salários são muito baixos quando comparados com o preço das coisas do dia-a-dia, já nem falando na questão do arrendamento ou compra de casa”. A ex-aluna da Universidade do Porto refere que “ainda existe muito desemprego… e por isso a minha ideia é sair por uns anos e arriscar a minha sorte fora”.

Porém, a razão mais vezes citada é o desejo de ter uma experiência diferente. Trabalhar noutro país “é das melhores maneiras de se maximizar a aprendizagem e crescimento no início da carreira, que são os meus principais objectivos”, frisa Diogo Vaz da Silva. Depois de ter tirado um duplo mestrado na Universidade Nova de Lisboa, Diogo vai em Setembro para a Goldman Sachs, em Londres.

A capital britânica é quase sempre o destino escolhido por quem tira economia, finanças ou gestão, devido à enorme concentração de empresas multinacionais de consultoria, bancos e empresas financeiras. “Há um estímulo intelectual em estar no estrangeiro, os mercados são maiores”, diz José Maria Rego.

Trabalhar no estrangeiro é uma experiência “enriquecedora”, não há nenhum jovem que não o confirme. Para Micael Serôdio, que trabalhou na petrolífera Total, em Bruxelas, depois do curso em Engenharia Industrial na Faculdade do Porto, as capacidades que adquiriu lá fora foram bem concretas. “Desenvolvi competências principalmente a quatro níveis: línguas, relacionamento comercial, logística e gestão de conflitos”, conta. Já conhecia o inglês, mas desenvolveu bastante o francês “porque era a língua mais utilizada”, diz Micael.

Apelo pelo estrangeiro começa na escola
Mas como ir “lá para fora”? Muitas vezes, o primeiro passo é dado ainda durante os estudos. “A bolsa permitiu-me escolher uma capital como Londres”, testemunha Hugo Oliveira, do ISCTE. A bolsa Leonardo da Vinci permitiu-lhe ir trabalhar no escritório de arquitectura londrino Adjaye Associate. Contudo, quase dois terços dos jovens europeus (65%) usam fundos próprios para financiar a sua mobilidade, seja a aprender ou a estagiar no estrangeiro.

Que o diga Diogo Vaz da Silva, que vai para a Goldman Sachs, em Londres: “Tive a sorte de, por um lado a minha família me ter apoiado imenso a compreender a importância deste tipo de experiências e, por outro, de ter a possibilidade de me dar esse apoio”. Além disso, o dinheiro que angariou em dois estágios permitiu-lhe continuar a estudar no estrangeiro. Em Portugal, apenas 18% dos recursos financeiros para a estadia dos jovens no estrangeiro vem de bolsas ou empréstimos, segundo o Eurobarómetro.

A nível europeu, os motivos financeiros são a principal razão que dissuade os jovens de ir um tempo estudar para o estrangeiro. No inquérito do Eurobarómetro, 33% mencionam que não vão por falta de dinheiro.


Testemunhos de alunos com olhos na internacionalização

“Tenho vontade de experimentar novos países”
Rita Gouveia não tem o “desejo de desertar” de Portugal, mas gostaria de se estabelecer “profissionalmente noutro país”. Depois da licenciatura em História da Arte e do mestrado em Ciências da Comunicação, na Universidade do Porto, saiu de Portugal para fazer um estágio no Museu Nacional de Artes Decorativas, em Madrid, e agora está em Barcelona, numa galeria de arte contemporânea. “Estas duas oportunidades que tive e estou a ter, têm sido, de facto, fundamentais para a minha vida”, diz Rita Gouveia. E o “bichinho” de estar no estrangeiro ficou. “Cada vez mais tenho vontade de experimentar novos programas de mobilidade e novos países”, conclui.

“Está a ser acima das minhas expectativas”
“Em termos profissionais, está a ser acima das minhas expectativas”, conta José Maria Rego. Com menos de um ano de experiência profissional, o jovem está a trabalhar na consultora Oliver Wyman, em Londres. Em termos pessoais “metade da minha família está no estrangeiro”, incluindo uma irmã na mesma cidade, e já fez amigos na City. “Tenho condições para viajar”, acrescenta, o que lhe está a permitir construir uma carreira internacional: depois da licenciatura em Economia, na Universidade Nova, entrou para o mestrado de dupla certificação da Católica, que o levou a Paris. Já tinha feito um estágio em Londres, agora trabalha na mesma cidade.

“Aprender com novas culturas”
“Estar em Londres ou em Portugal são experiências opostas”, defende João Cabaça. Apesar de admitir que “o factor financeiro pesa bastante”, escolheu este caminho “pela experiência”. O objectivo e a grande vantagem são “aprender com novas culturas e estar exposto a novas formas de trabalhar”. Foi por isso que o seu percurso começou no 3º ano da licenciatura de Gestão, feito no Canadá. Depois, tirou o mestrado CEMS, da Universidade Nova, que lhe permitiu passar o 2º ano entre Irlanda e Barcelona. Em Agosto, ruma a Londres, para trabalhar na área de Aquisições e Fusões do HSBC.

“Oportunidade demasiado boa para desperdiçar”
Apesar de gostar muito de Lisboa e de lhe custar deixar para trás família e amigos, Diogo Vaz da Silva acabou por considerar que trabalhar na Goldman Sachs, em Londres, era uma oportunidade demasiado boa para desperdiçar. “Na área de Finanças, mais concretamente no sector da banca de investimento, existe uma grande centralização dos bancos em certos locais, um dos quais é Londres. Ser-me-ia muito difícil encontrar uma oportunidade equivalente noutro país, inclusivamente em Portugal”, explica o ex-estudante de Economia da Nova, universidade onde tirou também um duplo mestrado em Finanças e Gestão Internacional.

Fonte: Económico



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