Marketing: O que falta para o arranque africano?

Junho 11, 2011 by  
Filed under Notícias

A reunião anual do Banco Africano de Desenvolvimento, está a revelar-se um fórum de partilha de experiências e de estratégias. E, pelo peso dos participantes, demonstra como este é um continente com capacidade para ser o mercado emergente do futuro.

 

Aposta em programas de ensino superior, simplificação administrativa e mobilização de recursos financeiros internos: o desenvolvimento africano parece um caminho inevitável no futuro, mas há ainda muito a fazer para o “despertar” de um continente há muito prometido. Estas são as linhas essenciais que resultam das intervenções de ontem na reunião anual do Banco Africano de Desenvolvimento que decorre, esta semana, em Lisboa.

Empresários africanos defenderam que é vital para o desenvolvimento dos sectores privado e, em geral, das economias africanas, a mobilização dos recursos financeiros internos, pedindo que sejam aceleradas as reformas estruturais nesse sentido. “O nível de recursos que podemos mobilizar é enorme, tanto de africanos em África como de africanos espalhados pelo mundo”, garantiu o director-geral do Ecobank no Togo, Arnold Ekre, um dos oradores num fórum de alto nível integrado na reunião.

Esta constatação é feita com base na experiência do Ecobank, com presença em maior número de países africanos do que qualquer outro – actualmente 30, entre os quais Benin, Costa do Marfim, Níger, Burundi, Cabo Verde, Guiné-Bissau, República Centro Africana, São Tomé e Príncipe, Senegal, Quénia, Nigéria e Zimbabué.

“Quando olhamos para os mercados financeiros e de capitais fora de África vemos a dimensão dos activos africanos que ali existem. Temos de atrair esse capital para África”, concordou o director-geral do sul-africano JSE (Joanesburgo Stock Exchange).

Para a gestora da empresa ArcelorMittal, gigante mundial da área dos minerais, Nonkululeko Nyembeziheita, faltam reformas ao nível do enquadramento legal das diferentes actividades económicas e falta confiança nos bancos. “A maioria dos africanos não tem o seu dinheiro nos bancos. É preciso fazer com que as pessoas confiem mais”, afirmou.

Por seu lado, o presidente executivo da Galp Energia recomendou uma “simplificação dos processos de Governo e administrativos” nos países africanos para “reduzir a corrupção” e assim criar um espaço para que as empresas sejam mais eficientes e desenvolvam mais projectos.

“Se tivesse de investir em África, como entidade que apoia África, investiria na simplificação dos processos de governo e administrativos das sociedades. A partir daí, a corrupção reduz-se radicalmente e cria-se um espaço para a actuação das empresas muito mais eficiente, o risco dos países diminui, o custo de capital é mais baixo e os projectos são mais rentáveis”, disse Manuel Ferreira de Oliveira.

Ao longo da conferência, Ferreira de Oliveira usou sempre a palavra “burocracia” e, à saída, explicou porquê. “Eu não usei nunca a palavra corrupção, usei a palavra burocracia. E usei-a intencionalmente, porque penso genuinamente que a corrupção é uma consequência da burocracia. Se os governos africanos tiverem processos administrativos que facilitem a execução de projectos e a actividade das empresas privadas, a corrupção automaticamente reduz-se”, reiterou.

Quanto às necessidades energéticas de África, o responsável da Galp disse que o continente “precisa de políticas consistentes” e de uma visão ambiciosa, mas sem “esquecer os fundamentos da economia”.

“O que precisamos de ter, em África, são conceitos económicos básicos: não acreditar que o desenvolvimento se vai fazer com subsídios e apoios de instituições internacionais. Esse apoio é necessário e bem-vindo para os africanos, mas apenas para preencher uma lacuna temporal”, sublinhou Ferreira de Oliveira.

 

 

Previsibilidade

Por seu turno, o presidente executivo da Portugal Telecom considerou que os investimentos em telecomunicações em África cresceriam, caso os países africanos adoptassem uma política de desenvolvimento sectorial e regulamentações “previsíveis e progressistas”, à semelhança do que fez Portugal.

“Havendo uma política de desenvolvimento sectorial e uma regulação previsível que defenda o cidadão, e não só o consumidor, é possível fazer os investimentos [em países africanos]”, disse Zeinal Bava, à margem de um almoço de alto nível no âmbito da reunião anual do BAD.

O presidente da operadora de telecomunicações portuguesa deu como exemplo a atitude do regulador português ANACOM.

“Nós [PT] fizemos um investimento em Portugal na fibra óptica, num contexto sectorial onde fomos o único operador europeu que abraçou um projecto dessa dimensão e ambição, porque houve a visão do regulador ANACOM de ter um enquadramento regulatório que potenciasse o investimento”, recordou Zeinal Bava.

“Quando falamos de África, falamos exactamente da mesma coisa. É preciso ter políticas sectoriais de investimento – por isso se fala da chamada agenda digital – uma regulação previsível e progressista. Não podemos ficar reféns dos modelos do antigamente em que pensávamos no sector por tecnologias: ou fixo ou móvel”, acrescentou o presidente executivo da PT.

Existindo essa previsibilidade regulatória, reiterou, “vai haver investimento” em África, um continente com oportunidades nesta área nos próximos anos.

“Em África, até 2020, o número de casas vai crescer, previsivelmente, 70 milhões. África vai ter mais 300 milhões de consumidores. É uma grande oportunidade para empresas de consumo, e isto ao mesmo tempo que é necessário fazer grandes investimentos”, sublinhou Zeinal Bava.

 

 

Aposta fundamental na educação superior

África deve seguir o exemplo de Brasil, China e Índia, que investiram em programas de ensino superior para obter um crescimento sustentável, disse um responsável por uma instituição académica de desenvolvimento, no âmbito da reunião do BAD.

Romain Murenzi, director executivo da Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS) – com sede em Itália -, falou durante um encontro sobre inovação no âmbito da reunião anual do Banco Africano de Desenvolvimento, onde considerou que “a inovação tecnológica é suficiente para manter o crescimento, mas para um crescimento sustentável, vendo o caso do Brasil, China e Índia, percebe-se bem que é necessário um programa massivo de ensino superior em África”.

Segundo o director da TWAS, é preciso criar, em África, um programa continental de pós-graduação (mestrados e doutoramentos) e os governos precisam dar prioridade ao ensino, sobretudo superior, para desenvolver o conhecimento e a inovação em todos os sectores.

“Oitenta por cento do crescimento vem da inovação e um dos pilares para a produção da inovação é o conhecimento, que cria valor, sendo as universidades e centros de investigação, pontos fulcrais para a criação deste conhecimento”, sublinhou Murenzi.

Em África, segundo o responsável, somente um em cada mil alunos do ensino superior segue a vida académica, fazendo com que haja poucos professores realmente habilitados no ensino superior que possam estimular a inovação entre os seus alunos.

Por seu lado, Frannie Léautier, secretária executiva da Fundação Africana para o Reforço de Capacitação (PAIDF), acredita que é realmente importante criar bons professores para que não só no ensino superior seja estimulada a criatividade, mas também entre as crianças, pois estas e os jovens são os mais criativos.

O presidente da Microsoft para África, Cheikh Modibo Diarra, acredita que, além da educação, as condições para a criação de inovação são um ambiente adequado de governação, cuidados básicos com a população, e que as empresas e governos assumam riscos para investir em projectos inovadores e no talento humano. Diarra disse ainda que, em África, existe uma burocracia excessiva, que os governos agem lentamente, o que prejudica a produção de inovação: “Colocam-se pessoas nos lugares em que não deveriam estar e atrapalha-se o bom desenvolvimento dos projectos”, referiu.

Fonte: Oje – o Jornal Económico



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